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No dia em que a minha amada me deixou - Leandro de Viso

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No dia em que a minha amada me deixou No dia em que a minha amada me deixou - A minha mais que tudo, a suprema utopia Que em sonhos me fora prometida - Levei o carro a uma lavagem automática Para remover a sujidade acumulada. Triste tarefa para quem tanta sofria Mas a vida é assim mesmo E, afinal, o carro estava imundo, sujíssimo! No dia em que a minha amada me deixou - Na precisa hora em que me dava a notícia No momento em que aqueles lábios de anjo Me condenavam às penas do inferno - Ocorreu-me que não levara o carro à lavagem Que a sujidade já cobria toda a superfície da chaparia E lambia a vidraça frontal, dificultando a visão No vidro de trás, já alguém garatujara “Lava-me Porco!” No dia em que a minha amada me deixou - A minha dilecta, mil vezes idealizada no altar Prometida que me fora em tantos êxtases de amor - Aspirei a alcatifa do meu carro Dei com o pano do pó no tablier E aspergi as vidraças com limpa-vidros O “Lava-me Po

A pintura de Nuno David

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Tempo re… partido… Esperançoso!!!! (Acrílico sobre papel). Caminhemos… a luz orienta-nos a saída!!!! (Acrílico sobre papel). Nuno David é natural de Angola e vive em Setúbal há cerca de 40 anos. Estuda Artes Plásticas desde 1967, ano em que expõe pela primeira vez. Na sua pintura utiliza os mais diversos materiais e técnicas como óleo à espátula e pincel, acrílico e pastel, mas é sobretudo na aguarela que mais gosta de se exprimir. Tem participado em exposições coletivas (cerca de 35) desde 1986, e tem feito exposições individuais (cerca de 16). Destacam-se as exposições realizadas na Igreja de Santiago, em Palmela (1997), na Galeria de Arte da Casa de Bocage, em Setúbal (1998), no Museu de Arqueologia e Etnografia, em Setúbal (1999), no Museu da Cidade, Convento de Jesus, desta cidade (2000) e na sua Biblioteca Municipal em 2010, no Instituto Piaget, em Almada (2001), no Palácio do Vimioso, na Universidade de Évora (2001), na Direcção

A verdade da mentira - Elisabete Caramelo

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A verdade da mentira Como numa grande família, há verdades que se revelam e muitas mentiras que se escondem por estes dias do século em que anda tudo ligado. O cérebro dispersa-se entre a netflix, o watsapp, o facebook, o instagram, a box, o qualquer coisa play e, para os mais retardatários, o computador ou a televisão. Uma coisa é certa: o animal humano é lento se o compararmos com o afã tecnológico. Lento e impreparado, incapaz de se se habituar a esta coisa  multitasking , com demasiadas tarefas para cumprir em simultâneo. Se juntarmos o excesso tecnológico à era do vazio (como lhe chamou Gilles Lipovetsky), temos o pano de fundo completo para este tempo que nos habituou ao fácil, ao “dois por um”, ao já digerido, à múltipla oferta, ao “depois leio que agora não tenho tempo”, ao  stress  do ócio e a tudo o que é de usar e deitar fora. Assim fomos evoluindo num tempo a correr, sem deixarmos de correr mais depressa que ele, como bem escreveu Manuela de Freitas no fado

Margem Sul do Tejo e Região do Fundão - Alberto Pereira

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O díptico, em acrílico, composto por dois painéis de um metro quadrado cada um, tem como tema a "Margem Sul do Tejo e Região do Fundão". Esta simbiose de dois espaços geográficos completamente distintos tem, como ponto central, uma ponte que, não só uniu duas margens, como, também, mudou a relação entre o Sul e o Norte, tornando-os mais próximos. Além da ponte que domina este conjunto, os símbolos da margem sul, mais que reconhecidos, como o s cacilheiros e o Cristo-Rei, irão comungar o espaço juntamente com as cerejas do Fundão, a Serra da Gardunha, o Castelo Novo de Aldeia Nova e a Capela da Nossa Senhora do Fundão. Um desafio que me foi proposto e que aceitei com agrado. Alberto Pereira, membro do Synapsis

Synapsis – 10 anos depois, e agora?! - João Coelho

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Synapsis – 10 anos depois, e agora?!                                                                                               “ … a cultura não é um luxo de privilegiados, mas uma necessidade fundamental de todos os homens e de todas as comunidades. A cultura não existe para enfeitar a vida, mas sim para a transformar – para que o homem possa construir e construir-se em consciência, em verdade e liberdade e em justiça …” Sophia de Mello Breyner Andresen (Assembleia Constituinte, 1975) No momento actual, em que a humanidade enfrenta um desafio global impensável, ninguém ousa fazer de sibila e o futuro não se revela. Temos arautos da desgraça que temem que o mundo nos caia em cima, e temos outros que defendem que o momento nos obrigará a rever as nossas prioridades, os nossos comportamentos e os nossos valores, e depois teremos um mundo melhor. Que é o próprio mundo que nos lança um aviso, sério, para que tenhamos juízo! Nota-se, e é provável que esse sentim

E, de repente... pensar no futuro - João Reis Ribeiro

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E, de repente... pensar no futuro E, de repente... ela abateu-se sobre nós. Num tempo em que todos acreditávamos que estaríamos defendidos de pestes, eis que, vinda do lado nascente, sem se anunciar, paulatinamente, ela surgiu, a pandemia, criando desequilíbrios, morte, apreensão, mudanças. Arrastados, transformámos o nosso estar, o nosso olhar, o nosso sentir, a nossa linguagem. E agarrámo-nos ao sonho de que “tudo vai ficar bem”. Mas, no fundo, o medo acompanha-nos. Isso, o medo. É novidade para nós mas não para a Humanidade, que já conhece narrações como a de Boccaccio (em Florença) ou a de Camus (em Oran)... Há uns anos, noutra crise, essa de cariz económico, Rui Zink escreveu um texto notável sobre o nosso sentir, “A instalação do medo” (Teodolito, 2012), referindo: “A ‘crise’ é sempre ‘económica’. As ‘reformas’ são sempre ‘estruturais’. O ‘futuro’ é sempre ‘melhor’. Ou ‘para os nossos filhos’. As ‘medidas’ são sempre ‘necessárias’. Se não fossem necessárias não seriam

Voltámos a ser mortais - Viriato Soromenho-Marques

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Voltámos a ser mortais Nunca é demais repeti-lo. Sobre o futuro não é sensato dizermos muitas coisas. Nem com todo o poder computacional do mundo estaríamos isentos de erro, pois a realidade é infinitamente mais complexa do que a nossa capacidade de a representar. Mas temos o passado. Como o anjo da história, que Walter Benjamin julgou perceber num quadro de Paul Klee (meu artigo DN, 18 01 2020), somos obrigados à procura de um sentido - a partir da leitura das ruínas, sofrimentos, esquecimentos, ilusões e injustiças do passado - que nos ajude a explicar como chegámos até aqui. Sem sentido ficaremos paralisados. Somos criaturas, como nos ensinou Viktor Frankl (1905-1997), sábio sobrevivente do Holocausto, que precisam da semântica tanto como do pão para a boca. Neste confinamento planetário, seguindo a progressão da COVID 19 como quem lê o boletim de baixas de uma guerra, aprendemos que a “normalidade” para onde os mais distraídos querem regressar de armas e bagagens, foi uma