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A mostrar mensagens de junho, 2020

O meu lenço da rota da seda - Isabel Melo

Em solavanco de ideias aterrámos no aeroporto Sempre perscrutando a sensação das nuvens suspensas À volta de questões inéditas num vacilar dos acontecimentos Que traduziam uma viagem sob o balanço da existência. As pessoas eram outras, mas as mesmas do mundo Que iam ouvindo e discutindo num tropel de notícias Onde augúrios agrestes de vozes da Europa ecoavam; Ao sabor de um ritual no tempo de lendas e história Pairava um ansiar de certeza, onde só valia a memória Sentindo os reflexos irónicos de medos que arrebatavam. As explicações do guia transmitiam aos lugares a inquietude Que em órbita chegavam aos nossos telefones e audiovisuais De um perpassar de saudade do ausente e uma global atitude De aflição hirta e anormal dos povos em quotidiano lívido, De conhecer este presente, de parar nestes momentos o rastilho. A rota da seda desde sempre no meu imaginário, foi passeada Não com sentido do verdadeiro aman

Modernidade Líquida - Salvador Peres

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Está na natureza dos homens catalogar o passado, questionar o presente e antecipar futuros prováveis. Foi sempre assim e, presume-se, assim será sempre. Pelo menos enquanto os homens forem as irrequietas criaturas que conhecemos, esses seres capacitados para pensar, idealistas, curiosos e sempre prontos para irem em demanda do desconhecido. É de há muito conhecida a propensão humana para catalogar tudo o que mexe e o que não mexe. Mesmo o invisível, o não perceptível ou o apenas vagamente concebível. Cataloga-se hoje a sociedade dos humanos com o termo “modernidade líquida”, que foi o conceito encontrado pelo pensador Zygmunt Bauman para caracterizar a liquidez, a fluidez, a volatilidade, a incerteza e a insegurança dos tempos que correm. Um tempo de egoísmos levados ao extremo, em que os alicerces que seguram as instituições ameaçam ruir e despenhar-se numa   desordem absoluta. Um tempo de deslaçamento das relações inter-pessoais, de consumo desenfreado, de desarmonia. Mas

"Diamantes no Rio" no Faro´s International Short-Film Festival 2020

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O filme “Diamantes no Rio”, de Alberto Pereira, foi selecionado para exibição pelo júri do Festival Internacional de Curtas-Metragens do Algarve, a realizar em Faro, no próximo mês de Julho. O filme segue o percurso do Sado, desde a nascente, nas altas serranias do Algarve, até à orla da mística Serra da Arrábida, depois de se espraiar pela bela e sonhadora baía da cidade de Setúbal.   “Diamantes no Rio”, integralmente realizado no decurso do estado de emergência imposto pela eclosão da pandemia Covid 19, tem a seguinte ficha técnica: Realização – Alberto Pereira ; Texto – Salvador Peres ; Narrativa – João Completo ; Tradução – Maria Helena Mattos ; Produção – S y napsis Excerto do texto do filme: “Uma nuvem alta sobrevoa o céu diáfano e uma brisa suave sopra uma fresca aragem de noroeste sobre o dédalo avermelhado dos telhados dos bairros velhos da cidade. Na face espelhada do rio reluz uma miríade de diamantes, que cintilam e rebrilham numa reflexão límpida e

Botes descansando na Doca dos Pescadores, Setúbal - Eduardo Carqueijeiro

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Let´s stick together - Botes descansando na Doca dos Pescadores, Setúbal Tirei esta foto num fim da tarde desta primavera na Doca dos Pescadores, em Setúbal. A fotografia reflete uma certa paz, dado pelas águas calmas e pelos reflexos luminosos dessas mesmas águas. Os botes todos juntos, como que a descansar da faina do dia, são, para mim, um símbolo de história e tradição. Ora na rampa ora na água, ao longo do ano, estes pequenos botes, que se aventuram para meio do rio e foz do estuário, são, para mim, uma imagem reconfortante. Desde que me lembro, recordo-me de ver estes belos botes, de desenho tradicional e cores maioritariamente de azul-cobalto, na doca ou no rio Sado. E mantêm-se. E isso é bom, significa que há peixe, que há chocos e lulas apanhados de forma sustentável na toneira e que continua a haver bravos homens que se dedicam a esta atividade, ou melhor, a esta arte. Aos vê-los todos juntos, lembrei-me da música Let´s stick togehter, de Brian Ferry: https://

Caminhando pelo cerro acima... - Alexandre Murtinheira

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"... paisagem tão bela e hipnotizante, num dia dramático, sem sol, onde predominam o negrume e a solidão. Caminhando pelo cerro acima, um centenário moribundo, que já pouco vê e ouve tenta reunir as suas últimas forças para o percurso final. A sua silhueta, negra e pouco definida, confunde-se com o cascalho e a rocha, limitadas por um espelho de águas angelicais... " Alexandre Murtinheira Alexandre Murtinheira é professor de Artes Visuais na Escola do Ensino Secundário D. João II, em Setúbal. Artista multifacetado, desenvolve a sua actividade artística na fotografia, na pintura, na música e nas artes performativas. Tem vindo a desenvolver um trabalho meticuloso, através da experimentação de novos materiais, ensaiando e consolidando técnicas e processos, numa diversidade de recursos que resultam numa apresentação muito ecléctica, contemporânea e exploradora de uma estética inovadora. É membro fundador do grupo Synapsis.

Afinidades

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AFINIDADES A exposição está patente ao público na Sala Multiusos da Fundação Caixa Agrícola Costa Azul, em Santiago do Cacém, entre os dias 13 de Junho e 1 de Agosto, de Terça a Sábado, das 14h00 às 18h00.

No dia em que a minha amada me deixou - Leandro de Viso

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No dia em que a minha amada me deixou No dia em que a minha amada me deixou - A minha mais que tudo, a suprema utopia Que em sonhos me fora prometida - Levei o carro a uma lavagem automática Para remover a sujidade acumulada. Triste tarefa para quem tanta sofria Mas a vida é assim mesmo E, afinal, o carro estava imundo, sujíssimo! No dia em que a minha amada me deixou - Na precisa hora em que me dava a notícia No momento em que aqueles lábios de anjo Me condenavam às penas do inferno - Ocorreu-me que não levara o carro à lavagem Que a sujidade já cobria toda a superfície da chaparia E lambia a vidraça frontal, dificultando a visão No vidro de trás, já alguém garatujara “Lava-me Porco!” No dia em que a minha amada me deixou - A minha dilecta, mil vezes idealizada no altar Prometida que me fora em tantos êxtases de amor - Aspirei a alcatifa do meu carro Dei com o pano do pó no tablier E aspergi as vidraças com limpa-vidros O “Lava-me Po

A pintura de Nuno David

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Tempo re… partido… Esperançoso!!!! (Acrílico sobre papel). Caminhemos… a luz orienta-nos a saída!!!! (Acrílico sobre papel). Nuno David é natural de Angola e vive em Setúbal há cerca de 40 anos. Estuda Artes Plásticas desde 1967, ano em que expõe pela primeira vez. Na sua pintura utiliza os mais diversos materiais e técnicas como óleo à espátula e pincel, acrílico e pastel, mas é sobretudo na aguarela que mais gosta de se exprimir. Tem participado em exposições coletivas (cerca de 35) desde 1986, e tem feito exposições individuais (cerca de 16). Destacam-se as exposições realizadas na Igreja de Santiago, em Palmela (1997), na Galeria de Arte da Casa de Bocage, em Setúbal (1998), no Museu de Arqueologia e Etnografia, em Setúbal (1999), no Museu da Cidade, Convento de Jesus, desta cidade (2000) e na sua Biblioteca Municipal em 2010, no Instituto Piaget, em Almada (2001), no Palácio do Vimioso, na Universidade de Évora (2001), na Direcção

A verdade da mentira - Elisabete Caramelo

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A verdade da mentira Como numa grande família, há verdades que se revelam e muitas mentiras que se escondem por estes dias do século em que anda tudo ligado. O cérebro dispersa-se entre a netflix, o watsapp, o facebook, o instagram, a box, o qualquer coisa play e, para os mais retardatários, o computador ou a televisão. Uma coisa é certa: o animal humano é lento se o compararmos com o afã tecnológico. Lento e impreparado, incapaz de se se habituar a esta coisa  multitasking , com demasiadas tarefas para cumprir em simultâneo. Se juntarmos o excesso tecnológico à era do vazio (como lhe chamou Gilles Lipovetsky), temos o pano de fundo completo para este tempo que nos habituou ao fácil, ao “dois por um”, ao já digerido, à múltipla oferta, ao “depois leio que agora não tenho tempo”, ao  stress  do ócio e a tudo o que é de usar e deitar fora. Assim fomos evoluindo num tempo a correr, sem deixarmos de correr mais depressa que ele, como bem escreveu Manuela de Freitas no fado

Margem Sul do Tejo e Região do Fundão - Alberto Pereira

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O díptico, em acrílico, composto por dois painéis de um metro quadrado cada um, tem como tema a "Margem Sul do Tejo e Região do Fundão". Esta simbiose de dois espaços geográficos completamente distintos tem, como ponto central, uma ponte que, não só uniu duas margens, como, também, mudou a relação entre o Sul e o Norte, tornando-os mais próximos. Além da ponte que domina este conjunto, os símbolos da margem sul, mais que reconhecidos, como o s cacilheiros e o Cristo-Rei, irão comungar o espaço juntamente com as cerejas do Fundão, a Serra da Gardunha, o Castelo Novo de Aldeia Nova e a Capela da Nossa Senhora do Fundão. Um desafio que me foi proposto e que aceitei com agrado. Alberto Pereira, membro do Synapsis