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A mostrar mensagens de janeiro, 2021

A cultura como um bálsamo pacificador - Isabel Melo

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  Viver e conviver com a cultura torna-se viciante. Precisamos dela como um alimento para o nosso discernimento e bem-estar, para o nosso enriquecimento, para a nossa plenitude. E, a bem da cultura, fazemos o impensável! Dei por mim a assistir a um concerto de ópera com Carlos Guilherme, às onze horas de uma manhã solarenga. Isto, simplesmente porque a alternativa era não haver concerto. Nestes tempos de pandemia, quem tenha a necessidade da cultura, ou se tenha agarrado a ela como uma amiga no seu confinamento, não sofreu tanto constrangimento no medo ou na solidão. E ao longo dos meses verificaram-se várias formas de ultrapassar a inexistência das várias manifestações culturais, descobrindo ou inventando novos conceitos, novas sinergias, necessidades e muitas adaptações. Entoaram-se fados, música instrumental ou mesmo música clássica das varandas, das praças ou carros, improvisando palcos e gerando plateias. Surgiram as plataformas digitais e, também aqui, uma nova terminologia

O Aroma que Cativa - Um poema de Fernando Antunes

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  Linda Dália que surpreendias com teu cheiro a limão era tão novo que não sabia o conteúdo dessa lição   Orquídea que foi que fizeste para rescenderes a caju tanta coisa me ensinaste sem me prenderes, só mesmo tu   Papoila tonta, estonteante flor com teu sabor a canela loucuras que cometemos, amor sem deixarem mazela   Camélia, pacifica, orgulhosa de cheiro indefinido Tempos tranquilos, serenos de amores bem amenos   Rosa de porcelana, flor de redenção sem ser bela, afinal teu corpo tinha o perfume que te dava pelo Natal     Fernando Antunes José Alex Gandum

A minha memória de João Cutileiro - Francisco Borba

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  ‘’Passei a minha vida toda, penosa e lentamente, escalando até ao cume do Evereste. Agora velho, "quebrada a espada já, rota a armadura", olho para trás por cima do ombro e vejo que me enganei: em baixo estão as Penhas da Saúde.’’ João Cutileiro O meu convívio com o João Cutileiro foi fugaz e interpolado, ao longo dos anos. Conheci-o, em sua casa, numa tarde luminosa de Maio de 1996. Há muito que admirava a sua obra, dispersa em exposições e lugares vários do nosso país, e tinha decidido procurá-lo, para lhe adquirir uma peça que queria oferecer à Ana, que completava 50 anos em Junho desse ano. Consegui o telefone, já não me lembro bem como, e liguei-lhe. Conversa curta, cordial pôs-me duas alternativas: ‘’ em Lisboa, onde tenho umas peças, ou, se quiser, aqui em casa, em Évora, onde trabalho. Conhece Évora?’’. Optei pela segunda hipótese, movido pela curiosidade natural de conhecer o verdadeiro santuário das suas produções. O João vivia numa casa tradicional, num espaço

Sair do Labirinto - Adérito Vilares

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  Há urgências que não podem esperar. E que se tornam exasperantes quando os esforços feitos para lhes pôr cobro demoram a surtir efeito. O rei Minos, senhor de Creta, conservava uma criatura desconforme (Minotauro) de guarda a um labirinto, do qual ninguém conseguiria libertar-se se acaso o arrojo e o atrevimento lá pudessem conduzir qualquer aventureiro. Tão problemática se mostrava também a manutenção do monstruoso zelador da encruzilhada devido à sua peculiar alimentação. De nove em nove anos, tinha de se revigorar consumindo carne humana de cidadãos de Atenas, os seus figadais inimigos. Cansado de ver os seus compatriotas a servirem de repasto a tão abominável figura, Teseu, filho do rei de Atenas, disponibilizou-se para enfrentar o Minotauro, prometendo, inclusive, matá-lo, libertando o seu povo daquela contínua ameaça. Ariadne, filha do Rei Minos, mas perdidamente apaixonada por Teseu, propôs-se ajudar o seu amado, oferecendo-lhe um novelo que desenrolaria à medida que s

Carlos do Carmo - Calou-se a voz do Senhor do Fado

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  Carlos do Carmo disse-me um dia que não escrevia poemas porque outros escreviam melhor que ele aquilo que ele próprio sentia. De uma educação e disponibilidade raras nas figuras públicas, Carlos do Carmo foi mais que fadista, foi um comunicador a falar e a cantar... O microfone calou-se no passado dia 1 de Janeiro, mas as colunas continuam a debitar a sua Voz e emoções.   José Alex Gandum   Dizer que sim à vida Dizer que sim à vida Dizer que não à morte Dizer na despedida Que o tempo é o mais forte Dizer que sim à vida Dizer que não à morte Jogar na despedida A carta que é a sorte Dizer a toda a gente Que o amor de repente Entrou no nosso jogo Dizer a toda a gente Que o nosso corpo é quente A nossa boca ardente E a nossa alma fogo... E se não for verdade Tudo o que nós dizemos Tudo o que nós sentimos Também não é saudade Por isso é que nos rimos Dizer que sim à vida Dizer que não à morte Jogar na despedida A carta que é a sorte Dizer a toda a gen