Eduardo Carqueijeiro - Secretas Paisagens

 


Numa tarde de Sábado, com o sol a declinar lentamente num entardecer suave, fui encontrar o Eduardo no seu atelier, pintando. Numa aparelhagem, pairava uma música distante, hipnótica, encantatória. Dispersos, descansando no apoio da parede, vários quadros. Alguns já terminados; outros, ainda em fase de criação. Vindos lá de fora, entrando pela janela entreaberta, os aromas do campo e o sereno ciciar da passarada, em surdina, para não desenrolar o novelo de silêncio que envolve a quinta e a projecta numa dimensão estranha, quase fora do mundo.





Deambulo por ali, movendo-me entre o cheiro intenso da tinta fresca. O Eduardo palrando, enquanto retoca delicadamente uma das suas secretas paisagens. Na paleta, uma mistura de azuis, vermelhos, verdes, amarelos, castanhos, a essência em busca da substância, ou o contrário, sei lá. Quem sabe? Ele próprio faz questão de não saber. Pinta porque sim, diz. E eu julgo perceber o que ele quer significar com isso. Dando-se a si próprio pouca importância, porque não conheço ninguém mais sabedor da relatividade do génio, ele age como se um chamamento forte o movesse a fazer as coisas belas que faz, mas não se interroga demasiado por causa disso, nem vê nesse esforço mais do que a emanação natural de estar vivo.




O mundo, para o Eduardo, continua por construir. E ele vai-o tecendo, naquele espaço de solidão e recolhimento, manuseando habilmente a química das tintas e a rugosidade dos pincéis, preparando a mistura cósmica de onde sairão os seus modelos do mundo. E as pontas vão-se entrelaçando num sentido que nunca fica completo, pois tem de ser reconstruído em cada gesto, reinventado em cada perspectiva, repensado a cada momento, redescoberto em cada olhar.





Sabedor das potencialidades e dos limites da cor, não é segredo para ninguém que o Eduardo atingiu um domínio e uma segurança na busca das tonalidades, que fez dele um pintor de eleição. Mas os quadros do Eduardo não se esgotam na fruição do olhar. Eles são mais que objectos de arte estáticos, belos, feitos para extasiar uma plateia de admiradores. Os quadros do Eduardo remetem-nos para esse lugar mítico e longínquo, fora do nosso alcance: o princípio do mundo. Um mundo cheio de energia criadora, a transbordar de vida, puro e ingénuo. Um mundo ainda com o sentido intacto. Um mundo numa explosão de cores, perdido para sempre.

 

Texto de Salvador Peres

Imagens da nova colecção de Eduardo Carqueijeiro: oceanos e atmosferas, lápis e ecolines em papel.


Synapsis 2010-2025 - 15 anos ao serviço da cultura e da cidadania



Os países não se medem pelo número de habitantes

Se os feitos desportivos (e outros) tivessem a ver com o número de habitantes de cada país, a China e a Índia (cada um com cerca de 1.400 milhões de habitantes) seriam os campeões mundiais em todas as modalidades. Mas as coisas não funcionam assim: muita gente não significa necessariamente muito poderio desportivo. 

Não é preciso ir muito longe para dar exemplos do contrário: os finalistas do Mundial de Andebol (que terminou ontem) foram países com poucos habitantes: Dinamarca (5,9 milhões), Croácia (3,8 milhões). Por essa linha de conta, e na mesma competição, Portugal (10,5 milhões) nunca teria ganho à Alemanha (84,5 milhões), nem nunca teria sido Campeão Europeu de Futebol em 2016 contra uma França com 68 milhões de habitantes.

Mas o caso mais paradigmático foi com certeza o que aconteceu nessa mesma competição de 2016, onde uma Islândia (300 mil habitantes) chegou aos quartos-de-final depois de ter eliminado inclusive uma Inglaterra (56 milhões). Mas outro caso paradigmático é o da Croácia, que em duas das mais importantes modalidades desportivas mundiais, tem andado no topo no Futebol e agora também no Andebol.

Se formos ao Atletismo, os 2,8 milhões de jamaicanos batem-se de igual para igual (em certas especialidades) com os Estados Unidos (335 milhões). O que se diz do desporto pode dizer-se de outras áreas, musicais, artísticas ou literárias, por exemplo.

 

José Alex Gandum


 Synapsis 2010-2025 - 15 anos ao serviço da cultura e da cidadania



9 de Abril de 2010

Um novo projecto cultural nascia em Setúbal

Depois da sua fundação, a 9 de Abril de 2010, o Synapsis dava-se a conhecer à cidade de Setúbal, a 24 de Setembro, no Museu de Arqueologia e Etnografia de Setúbal, com um serão de música, poesia e pintura ao vivo. O serão contou com a participação do grupo e-Vox, dos declamadores Carlos Medeiros e João Completo e do pintor Nuno David.








Synapsis 2010-2025 - 15 anos ao serviço da cultura e da cidadania


FICHA TÉCNICA

Coordenação Editorial de Salvador Peres e José Alex Gandum

Textos de José Alex Gandum e Salvador Peres

 Imagens de Eduardo Carqueijeiro e José Alex Gandum

 Edição de Salvador Peres




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