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Não vá o tempo virar - Sara Loureiro

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O poeta escreve nas nuvens sempre em tinta permanente. Não havendo nuvens começa por aí o seu labor e então desenha tempestades cria cumulonimbus grandes e majestosos para poder trabalhar à vontade para ter bigorna onde assentar seus versos malhar-lhes o corpo definir-lhes o sentido. Mas está sempre de alerta não vá o tempo virar de repente desbotar-lhe o verso engolir-lhe os pertences roubar-lhe a memória. Por isso aproveita quanto pode para aprender sobre nuvens ler-lhes as entranhas desvendar-lhes os mistérios. E quando se dá por satisfeito mergulha na escrita com a tempestade nas veias o raio no coração. Então escreve. De seguida. Antes que a chuva caia e afogue seus versos. Sara Loureiro, 2019 Sara Loureiro é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, pós-graduada em Animação Cultural e Mestre em Ciências da Educação. Tem feito um percurso eclético, perpassando diferentes áreas do conhecimento. Actualmente,

Sete Luas - Carlos de Medeiros

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Há noites que são feitas dos meus braços E um silêncio comum às violetas. E há sete luas que são sete traços De sete noites que nunca foram feitas Há noites que levamos à cintura Como um cinto de grandes borboletas E um risco a sangue na nossa carne escura Duma espada à bainha de um cometa Há noites que nos deixam para tràs Enrolados no nosso desencanto E cisnes brancos que só são iguais À mais longínqua onda do seu canto. Há noites que nos levam para onde O fantasma de nós fica mais perto; E é sempre a nossa voz que nos responde E só   o nosso nome estava certo… Há noites que são lírios e são feras E a nossa exactidão de rosa vil Reconcilia no frio das esperas Os astros que se olham de perfil. Natália Correia Carlos de Medeiros nasceu nos Açores e vive em Lisboa. O interesse pela fotografia começou em África, durante o serviço militar, nos anos setenta. Regressado a Lisboa, prosseguiu o seu trajecto como fotógrafo, re

O meu lenço da rota da seda - Isabel Melo

Em solavanco de ideias aterrámos no aeroporto Sempre perscrutando a sensação das nuvens suspensas À volta de questões inéditas num vacilar dos acontecimentos Que traduziam uma viagem sob o balanço da existência. As pessoas eram outras, mas as mesmas do mundo Que iam ouvindo e discutindo num tropel de notícias Onde augúrios agrestes de vozes da Europa ecoavam; Ao sabor de um ritual no tempo de lendas e história Pairava um ansiar de certeza, onde só valia a memória Sentindo os reflexos irónicos de medos que arrebatavam. As explicações do guia transmitiam aos lugares a inquietude Que em órbita chegavam aos nossos telefones e audiovisuais De um perpassar de saudade do ausente e uma global atitude De aflição hirta e anormal dos povos em quotidiano lívido, De conhecer este presente, de parar nestes momentos o rastilho. A rota da seda desde sempre no meu imaginário, foi passeada Não com sentido do verdadeiro aman

Modernidade Líquida - Salvador Peres

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Está na natureza dos homens catalogar o passado, questionar o presente e antecipar futuros prováveis. Foi sempre assim e, presume-se, assim será sempre. Pelo menos enquanto os homens forem as irrequietas criaturas que conhecemos, esses seres capacitados para pensar, idealistas, curiosos e sempre prontos para irem em demanda do desconhecido. É de há muito conhecida a propensão humana para catalogar tudo o que mexe e o que não mexe. Mesmo o invisível, o não perceptível ou o apenas vagamente concebível. Cataloga-se hoje a sociedade dos humanos com o termo “modernidade líquida”, que foi o conceito encontrado pelo pensador Zygmunt Bauman para caracterizar a liquidez, a fluidez, a volatilidade, a incerteza e a insegurança dos tempos que correm. Um tempo de egoísmos levados ao extremo, em que os alicerces que seguram as instituições ameaçam ruir e despenhar-se numa   desordem absoluta. Um tempo de deslaçamento das relações inter-pessoais, de consumo desenfreado, de desarmonia. Mas

"Diamantes no Rio" no Faro´s International Short-Film Festival 2020

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O filme “Diamantes no Rio”, de Alberto Pereira, foi selecionado para exibição pelo júri do Festival Internacional de Curtas-Metragens do Algarve, a realizar em Faro, no próximo mês de Julho. O filme segue o percurso do Sado, desde a nascente, nas altas serranias do Algarve, até à orla da mística Serra da Arrábida, depois de se espraiar pela bela e sonhadora baía da cidade de Setúbal.   “Diamantes no Rio”, integralmente realizado no decurso do estado de emergência imposto pela eclosão da pandemia Covid 19, tem a seguinte ficha técnica: Realização – Alberto Pereira ; Texto – Salvador Peres ; Narrativa – João Completo ; Tradução – Maria Helena Mattos ; Produção – S y napsis Excerto do texto do filme: “Uma nuvem alta sobrevoa o céu diáfano e uma brisa suave sopra uma fresca aragem de noroeste sobre o dédalo avermelhado dos telhados dos bairros velhos da cidade. Na face espelhada do rio reluz uma miríade de diamantes, que cintilam e rebrilham numa reflexão límpida e

Botes descansando na Doca dos Pescadores, Setúbal - Eduardo Carqueijeiro

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Let´s stick together - Botes descansando na Doca dos Pescadores, Setúbal Tirei esta foto num fim da tarde desta primavera na Doca dos Pescadores, em Setúbal. A fotografia reflete uma certa paz, dado pelas águas calmas e pelos reflexos luminosos dessas mesmas águas. Os botes todos juntos, como que a descansar da faina do dia, são, para mim, um símbolo de história e tradição. Ora na rampa ora na água, ao longo do ano, estes pequenos botes, que se aventuram para meio do rio e foz do estuário, são, para mim, uma imagem reconfortante. Desde que me lembro, recordo-me de ver estes belos botes, de desenho tradicional e cores maioritariamente de azul-cobalto, na doca ou no rio Sado. E mantêm-se. E isso é bom, significa que há peixe, que há chocos e lulas apanhados de forma sustentável na toneira e que continua a haver bravos homens que se dedicam a esta atividade, ou melhor, a esta arte. Aos vê-los todos juntos, lembrei-me da música Let´s stick togehter, de Brian Ferry: https://

Caminhando pelo cerro acima... - Alexandre Murtinheira

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"... paisagem tão bela e hipnotizante, num dia dramático, sem sol, onde predominam o negrume e a solidão. Caminhando pelo cerro acima, um centenário moribundo, que já pouco vê e ouve tenta reunir as suas últimas forças para o percurso final. A sua silhueta, negra e pouco definida, confunde-se com o cascalho e a rocha, limitadas por um espelho de águas angelicais... " Alexandre Murtinheira Alexandre Murtinheira é professor de Artes Visuais na Escola do Ensino Secundário D. João II, em Setúbal. Artista multifacetado, desenvolve a sua actividade artística na fotografia, na pintura, na música e nas artes performativas. Tem vindo a desenvolver um trabalho meticuloso, através da experimentação de novos materiais, ensaiando e consolidando técnicas e processos, numa diversidade de recursos que resultam numa apresentação muito ecléctica, contemporânea e exploradora de uma estética inovadora. É membro fundador do grupo Synapsis.