Não vá o tempo virar - Sara Loureiro




O poeta escreve nas nuvens
sempre em tinta permanente.
Não havendo nuvens
começa por aí o seu labor e então
desenha tempestades
cria cumulonimbus
grandes e majestosos
para poder trabalhar à vontade
para ter bigorna onde assentar seus versos
malhar-lhes o corpo definir-lhes o sentido.
Mas está sempre de alerta
não vá o tempo virar de repente
desbotar-lhe o verso
engolir-lhe os pertences
roubar-lhe a memória.
Por isso aproveita quanto pode para
aprender sobre nuvens
ler-lhes as entranhas
desvendar-lhes os mistérios.
E quando se dá por satisfeito
mergulha na escrita com
a tempestade nas veias
o raio no coração.
Então escreve. De seguida.
Antes que a chuva caia
e afogue seus versos.

Sara Loureiro, 2019



Sara Loureiro é licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, pós-graduada em Animação Cultural e Mestre em Ciências da Educação.

Tem feito um percurso eclético, perpassando diferentes áreas do conhecimento. Actualmente, foca-se na escrita, na literatura e nas artes plásticas.
Acha que as palavras são uma das maiores invenções da humanidade e, por isso, gosta de as ter por perto, de lhes sentir o pulso e insuflar vida. É diseuse, escreve e publica poesia.  Nas artes plásticas, escolhe linguagens contemporâneas, entretecendo quase todos os seus trabalhos com colagens e pintura. Expõe regularmente as suas obras.
A sua actividade estende-se, igualmente, pelas áreas da programação, produção e dinamização culturais.
Foi professora no ensino secundário e no ensino superior. Actualmente é  consultora pedagógica e formadora na PLUS Academy.
Está envolvida em diversos projetos de promoção do livro e da leitura.
É membro do Synapsis.


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