"Viver para sempre". A pintura no tempo de Bocage e Ciclo de Órgão
Esta semana, o Blogue Synapsis leva os seus leitores a crónica “Viver para sempre”; duas sugestões de índole cultural: “A Oriente e a Ocidente. A pintura no tempo de Bocage, nas Ásias e nas Américas” e o “Ciclo de Órgão de Tubos e Canto em S. Sebastião”.
Viver para sempre
O advento dos relógios electrónicos, dos telemóveis e outras geringonças horárias com mostradores que deixam cair as horas minuto a minuto, trouxe à percepção da vida uma diferente perspectiva do tempo que passa. A cronologia transfigurou-se num saltitar regulado pela ligação da maquineta a um mecanismo oculto, sem rodas dentadas, rodízios, molas ou pêndulos, que só dá as horas em intervalos de minuto. Raramente alguém acompanha a passagem de um minuto a outro, a não ser que se disponha a ficar, até sessenta segundos, a fixar o relógio até que, tic!: a um minuto sucede outro minuto.
Em não fixando o mostrador da caranguejola horária, o consumidor de tempo
nem dá pela passagem do dito. O tempo passa a ser uma coisa imaterial e
subjectiva. Mas não é mesmo isso que o tempo é, em querendo nós que se assuma
como coisa? Talvez, e, se sim, vem mesmo a talhe de foice para o que descrevo a
seguir.
Veio-me ao pensamento esta reflexão ociosa, quando, pelo meio da tarde,
olhei para as horas e verifiquei, não sem algum alvoroço, que o meu relógio tem
ponteiro dos segundos. O espanto resulta do gesto automático a que nos
habituámos, que é ver as horas sempre que consultamos alguma coisa no
telemóvel. E raramente olhamos para o relógio de pulso, aqueles que ainda o
usam, como é o meu caso.
Diz um estudo que li por aí que tiramos o telemóvel do bolso umas 200
vezes por dia. São 200 vezes que o mostrador horário incorporado nos mostra as
horas. Duzentas vezes que constatamos a aparente imobilidade do tempo, porque,
no golpe de vista ao mostrador do telemóvel só vemos um número fixo, diferente
de cada vez que olhamos, é certo, mas fixo, sempre fixo, como se o tempo
estivesse suspenso naqueles dígitos.
Quando, pelo meio da tarde, consultei as horas no meu relógio, e
acompanhei o ponteiro no seu incessante e infinito rodopio pelo mostrador, engolindo
um a um infinitos minutos, dei por mim a contar cada segundo. E o tempo
assumiu, subitamente, um significado material e objectivo.
Não sei como resolver esta aparente contradição entre as horas que vejo
no telemóvel e as que vislumbro no meu relógio de pulso. Tão-pouco sei qual a
essência do tempo, de onde veio, se existe ou não, ou se foi apenas inventado
para medirmos a finitude das coisas. Uma coisa, porém, me parece sensata: se
querem viver para sempre, suspensos no tempo, nunca usem um relógio com
ponteiro dos segundos.
Salvador Peres
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A Oriente e a Ocidente.
A pintura no tempo de Bocage, nas Ásias e nas Américas
Sexta-feira
dia 18, às 18h no MAEDS, apresentação por Eduardo Carqueijeiro
Bocage
viveu entre 1765 -1805 e a Europa passava por períodos de rápidas mudanças, em
que os estilos artísticos associados ao pensamento evoluíam de um Rococó em
declínio, a uma ascensão do movimento neoclássico, ultrapassados posteriormente
pelo romanticismo e pelo pensar germinado na revolução francesa.
Mas e o
que se passava, o que se pintava no resto do mundo? Nomeadamente pelos locais
mais a oriente e a ocidente do nosso pequeno canto europeu?
Bocage
nas suas pequenas 7 vidas, passou por Rio de Janeiro, Damão e Macau.
Ora esta
apresentação vai abordar “os estilos”, a maneira de pensar dos principais
pintores e quais as formas de representar nos “orientes e ocidentes”, mais
especificamente no Japão, na Índia, no Brasil, mas também na América do Norte e
quais o legado que algumas destas formas estéticas tiveram nos anos
subsequentes.
No caso do Japão, vivia-se a chamada representação
do mundo flutuante que pelas suas fortes
caraterísticas estéticas e conceptuais deixou marcas vindouras que perduram até
aos nossos dias.
“Vivendo
apenas o momento, voltando nossa atenção para os prazeres da lua, da neve, das
flores de cerejeira… cantando canções, bebendo vinho e nos divertindo, apenas
flutuando, flutuando… recusando-se a desanimar, como uma cabaça flutuando na
corrente do rio; isso é o que chamamos de mundo flutuante” Asai Ryui.
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Ciclo de
Órgão de Tubos e Canto em S. Sebastião
Igreja de S.
Sebastião, dia 5 de Março, pelas 21h00
O primeiro concerto, que terá lugar
na Igreja de S. Sebastião, dia 5 de Março, pelas 21h00, contará com a
participação do organista João Santos e da soprano Manuela Moniz.
João Santos tem actuado
regularmente como organista do Santuário de Fátima, é organista titular da
Catedral de Leiria e dirige o Coro Carlos Seixas, de Coimbra, tendo feito
concertos por toda o mundo.
Manuela Moniz, soprano, integrou o
Coro Gulbenkian, tem participado no Coro do Teatro Nacional de São Carlos, tendo
no seu currículo concertos por todo o mundo.
O ciclo de concertos prosseguirá de acordo com o seguinte programa:
- a 23 de Abril, com o organista Fernando Fontes e a soprano Isabel Biu;
- a 15 de Outubro, com o organista António Laertes e com a soprano Sofia Amorim;
- a 26 de Novembro, com o organista João Vaz. Canto a definir.
Pode já assegurar o seu lugar, comprando bilhete, ou fazendo a reserva junto dos Amigos da Paróquia de S. Sebastião.
Gosto do que acabo de ler, de como se chega a certas conclusões apenas e só porque se presta atenção ao ponteiro dos segundos, em 2022, quando já muito poucas pessoas o faz.
ResponderEliminarHá estudos que dizem tanto e outros que dizem nada!
Mas atendendo a certos estudos, neste caso, sinto-me bem "à parte" como se fosse muito ainda do século passado, pois felizmente eu acho, ainda não faço quase nada do que vejo os outros fazerem!
Sinto-me feliz por isso, por me sentir "diferente"!
O quê? tiramos o telemóvel do bolso umas 200 vezes por dia.
Pois acredito, mas eu não!
Quando, vou nos transportes públicos e vejo todos de telemóvel na mão, muitos a atravessar a rua e nem olham para os carros pois os seus olhos estão presos ao telemóvel, numa mesa de um café a lanchar ou almoçar todos de tlm na mão, olhos presos e quem está ao lado pouco interessa...
e, muitas vezes vou fotografar com a minha câmera e esqueco-me pura e simplesmente que no fundo da mochila tinha lá um tlm que nem me lembro que existe, só ao fim do dia, ao chegar a casa, reparo que "ele" foi na mochila, mas eu nem o usei...enfim!
Por enquanto, vou sabendo qual a essência do "meu" tempo.
Este comentário foi removido pelo autor.
EliminarObrigado pelo contributo, Kalinka, Sabendo que és uma pessoa de blogues (e não tanto de Facebook ou Instagram), logo aí nota-se uma diferença de viver e sentir o tempo. Porque as redes sociais mais badaladas são de consumo imediato e os blogues, por exemplo, são muitas vezes intemporais. Para postar numa rede social bastam 10 segundos, mas para fazer um post num blogue são precisos muitos minutos ou até horas. Obrigado. Um abraço.
EliminarObrigada pela resposta!
EliminarVerdade, sou mesmo uma pessoa de blogues (só para dizer que alimento 4 blogues) com as minhas experiências de viagens e fotografia, duas das minhas paixões. Para postar num blog tudo é relativo, há quem o faça em 10 minutos mas eu, como faço muitas pesquisas para informar os meus leitores, demoro entre 1h a 1h30m a fazer um post na sua totalidade.
Parabéns Salvador Peres pelo interessante texto e parabéns Nuno David pela excelente aguarela! Quanto à sugestões, auguram-se bons momentos culturais.
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