Novas exposições temporárias no MAEDS

 



Novas exposições temporárias no MAEDS

28 Novembro 2020, 11h00

Visitáveis gratuitamente até 16 de Janeiro de 2021, de Terça a Sábado:

9h00-12h30/14h00-17h30.

 

Pouca Terra…Pouca Terra

Que paisagens?

 

Uma exposição de arte colectiva, onde convivem estilos, perspectivas e filosofias diferenciadas, constitui invariavelmente um desafio ao encontro, diálogo e debate.

Em plena crise pandémica, em que a distância social se impôs no nosso vocabulário e comportamento, não nos podemos esquecer que, por natureza, os Humanos são seres gregários e que a actividade cultural e seus agentes não podem ser suspensos. A sua produção é tão ou mais necessária nos momentos de crise como o que vivemos.

A segunda reflexão que aqui desejo partilhar prende-se, claramente, com a ideia estruturante da exposição: as belas paisagens do nosso planeta e a urgência da sua conservação. Todos os meios de comunicação são poucos para a criação de uma consciência universal sobre os problemas ambientais com que nos defrontamos: a delapidação de recursos naturais, a redução vertiginosa da biodiversidade, o aquecimento global... Mas é necessário perceber os mecanismos subjacentes a esta realidade, a qual só será transformada com o colapso do capitalismo hegemónico. Na sua voracidade extrema, orientado pelo lucro, assente na desigualdade social e na exploração desenfreada de recursos naturais e humanos, vai deixando um rasto de destruição à escala mundial.

Rui Garcia


Em uma das últimas entrevistas, o astrofísico Stephen Hawking afirmou, em jeito de aviso, que a Humanidade dispunha apenas de um século para encontrar outro planeta. Esta frase ficou pairando nos meus dias e a ela juntei no presente contexto “Falésias de Sines”, de Celestino Alves, paisagem que se me impunha com um vago sentimento saudosista do Cabo de Sines, que bem conheci na sua pureza pré-industrial, envolto em maresia temperada pelo perfume discreto de

esparsas plantas psamófilas em manchas de areias dunares.

Na presente viagem iniciada com o paisagismo de Celestino Alves e uma breve referência ao naturalismo poético de Augusto Júlio, outros artistas plásticos se juntaram no mesmo propósito: José Cascada, que nos encaminha para o Sul, para o litoral rochoso, calcário e luminoso do Barlavento, em amplos cenários onde a harmonia impera, servida pela técnica exímia do Mestre.

Alberto Pereira, que em registos hiper-realistas, nos mostra a baía de Setúbal, os seus barcos de pesca, e mais longe o cais palafítico...

Acácio Malhador deixa-nos estranhas paisagens, por vezes enigmáticas, mas jamais ingénuas – viveiros de ostras, vestígios dos anos 60 do século XX que afloram na baixa-mar, a última ceia nos escombros de casario no Espichel ou a paisagem que nos foge sob os pés. Convite à reflexão!

A nossa viagem prossegue após pausa junto da obra gravada de Margarida Lourenço. No seu estilo inconfundível, mistura o manto verde da Terra com o vento e o sussurro das árvores à sua passagem, em maravilhoso quase oriental, onde a perfeição das coisas talvez se possa vislumbrar.

Ana Férias radicaliza o discurso e torna visível o grito sufocado da Natureza. Respirar é preciso! A sua narrativa é eloquente e por vezes comovente, como no bouquet de pequenas flores amarelas à beira do abismo.

Finalmente, importa referir as obras escultóricas de Ana Quintino, Jorge Pé-Curto e Misé Pê.

Fragmentos do real, objectos palpáveis que povoam a mostra, apelando ao tacto e ao senso.

Joaquina Soares

 

Olhos Fechados/memórias diárias

Catherine Henke

Catherine Henke expõe pela segunda vez no MAEDS e o seu trajecto, antes como agora, conduz-nos à redescoberta da Natureza.

Chegou a Portugal, após a Revolução de Abril de 1974, com o parceiro que estudou na Suíça para não participar na guerra colonial de África. Escolheu Montemor-o-Novo como “homeland”.

A partir de 1976, a paisagem de montado, os ciclos de luz e água mediterrâneos, a terra e a agricultura entraram no seu universo de interesses e constituíram-se como sua “musa” inspiradora.

Experimentou o barro, as fibras vegetais das margens do rio, sementes e esporos e outros segredos a que apenas acedem os que sabem escutar a voz da terra e o choro do planeta.

O conjunto de trabalhos de técnica mista agora exposto, naturezas mortas do quotidiano da pintora, contém uma dupla forma de ver. A representação diurna, colorida e factual opõe-se ou completa-se com a visão nocturna das coisas, sombras e contornos quase sem volume, planando no espaço ao abrigo da gravidade, imersas na luz negra da matéria estelar.

Joaquina Soares



O ESPLENDOR DA ARTE - Secção do blogue Synapsis dedicada a grandes acontecimentos do mundo artístico e literário.





 

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