Por serras, veredas, atalhos...



"Serras, veredas, atalhos, estradas e fragas de vento...", é assim que versa o poema que Ary dos Santos dedicou ao médico/escritor Fernando Namora para mencionar os caminhos que este percorria para tratar das doenças dos mais desprotegidos, muitos deles crianças que de outro modo não tinham acesso a cuidados de saúde... pois, e foi no Dia da Criança, 1 de Junho, que synapsianos e amigos percorreram "serras, veredas, atalhos, estradas..." - e não fragas de vento porque a manhã estava tranquila e a temperatura amena.




Embora por caminhos já anteriormente calcorreados, há sempre novos motivos a descobrir a cada curva, onde as subidas e as descidas estavam este ano mais debroadas pelo verde e mais floridos que o costume em virtude do Inverno chuvoso que multiplicou a vegetação e despertou os aromas e principalmente os sentidos... os percursos percorridos foram em tempos "pertença" de uma das figuras mais carismáticas que já habitaram a Serra da Arrábida, o designado 'Chico das Saias', indivíduo que viveu até aos 90 e poucos anos e que escolheu a vertente norte da Serra mágica para os seus desabafos... ficou a vontade de voltar... voltar sempre à magia da Serra!

 

José Alex Gandum


 Synapsis 15 anos - Um espaço de cidadania e expressão artística



Flávio despachou o televisor

Flávio vendeu o televisor numa lojeca na esquina da rua do Mercado, um aparelho que lhe tinha custado uma pipa de massa. O lojista deu-lhe quase nada pela TV, coisa que a Flávio não fez mossa. O que ele queria mesmo era livrar-se daquele miasma e não pensar mais no assunto. Saiu da loja a pensar que lá em casa nunca mais entrariam aqueles políticos de meia-tigela, mais a multidão de comentadores que os promoviam, enalteciam ou demonizavam. Isto para já não falar dos canais que exploravam, sem tento nem vergonha, a miséria e desgraça alheias. Já não se aguentava. Estava farto. Claro está que toda aquela gente e todos aqueles conteúdos espreitavam nos televisores que se espalhavam por toda a parte, como uma praga, em cafés, restaurantes, centros comerciais, consultórios, ginásios, aeroportos…. Dificilmente escaparia, a não ser que deixasse de frequentar todos esses locais, o que se afigurava impossível, dada a profusão de écrans invadindo os mais inimagináveis espaços, posicionados em todo os ângulos disponíveis. Flávio já tinha, meses antes, saído das redes sociais, onde chegara a somar uns milhares de “amigos”. E nunca, a despeito de muito aconselhado por alguns próximos, chegara a entrar noutros caixotes do lixo, como o tik-tok e semelhantes. A namorada de Flávio, a Matilde, achou que ele estava a ficar lelé da cuca, insano e insociável, e deixou-o. Os amigos mais chegados, não os do Facebook, mas os verdadeiros, também reconheceram que havia ali algum exagero, talvez uma pontinha de insânia e começaram, à cautela, a afastar-se dele.

Contudo, passados tempos desde que se livrara do ecrã e da influência das redes sociais, Flávio descobriu que respirava melhor, vivia melhor e que o mundo estava a tornar-se de novo um lugar frequentável. Já não aquele mundo formatado para consumo das massas que os media expeliam, como um vómito, vinte e quatro sobre vinte e quatro horas. Mas o mundo real, com todas as virtudes e defeitos da condição humana, com todas as sortes e azares da vida, com todos os caprichos da natureza. A pouco e pouco, os amigos, não os do Facebook, mas os verdadeiros, voltaram a aproximar-se, porque, como tudo na vida, as coisas, como patenteou Pessoa, primeiro estranham-se, depois entranham-se. E a presumível insânia de Flávio passou de bizarra a usual. É a vida. A Matilde é que não voltou, coisa que a Flávio não fez mossa. Como se costuma dizer, às vezes, há males que vêm por bem.

 

Salvador Peres

 Synapsis 15 anos - Um espaço de cidadania e expressão artística





Gestos entrelaçados

No dia 7 de junho, às 16h00, o MAEDS - Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal inaugura a exposição temporária “Gestos Entrelaçados”, com tapeçaria de Guida Fonseca e desenho de Teresa Melo.

A partir de suportes e técnicas distintas, Guida Fonseca, com "Entre fios e tempos", e Teresa Melo, com "Entre o caos e a harmonia", partilham um território sensível comum – o do gesto que cria, comunica e transforma.

Dois universos visuais e sensoriais entrelaçam-se num diálogo íntimo entre matéria, tempo e ação.

Patente até 23 de agosto de 2025

Entrada livre


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Oficina de Arqueologia Experimental

Marcas do Tempo: Gravação em Placas de Xisto



Data: 14 de junho

Horário: 10h00-12h00

Local: Avenida Luísa Todi, 162. 2900-451 Setúbal

Público-alvo: A partir dos 7 anos


No âmbito das Jornadas Europeias de Arqueologia, o MAEDS vai promover uma oficina de arqueologia experimental!

Começamos com uma visita à exposição permanente para explorar a arte móvel pré-histórica e descobrir como os nossos antepassados criavam e utilizavam objetos votivos.

Depois, mãos à obra! Após demonstração usando ferramentas inspiradas na Pré-História, cada participante poderá gravar e levar para casa a sua própria placa de xisto.

Atividade gratuita.

Inscrição obrigatória: https://forms.gle/Pw1zHzsSNe1FAHdm8 (Vagas limitadas!)

Junte-se ao MAEDS e venha descobrir o passado!


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FICHA TÉCNICA

Coordenação Editorial de Salvador Peres e José Alex Gandum

 Textos de José Alex Gandum e Salvador Peres

 Imagens de José Alex Gandum e Salvador Peres

 Edição de Salvador Peres





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