A praia do Senhor Hulot entre S. Torpes e Porto Covo e as férias em Agosto
Saint-Marc-sur-Mer - A praia do Senhor Hulot
A praia não é Saint-Marc-sur-Mer, situada na comuna de Saint-Nazaire, na região do Loire-Atlantique, onde Jaques Tati filmou “As férias do Senhor Hulot”. Esta de que falamos está localizada na portuguesíssima Costa Vicentina e chama-se Praia de Morgavel. Uma reentrância de mar, acobertada entre esparsos rochedos, com um extenso areal no pico da maré baixa, salpicado por pequenas lagoas que o mar vai deixando quando recua para a baixa-mar. Não estamos em Saint-Marc-sur-Mer, onde pontua o Hotel de La Plage, memória viva das peripécias do Senhor Hulot, mas sim num pequeno paraíso situado entre S. Torpes e Porto Covo.
Acima da praia, dois bons restaurantes, o Arte e Sal e o Bom Petisco. Mas não é disso que reza esta crónica. Logo à entrada do filme de Tati, há uma cena em que se vê uma camioneta da carreira a chegar à praia. À janela, rostos deslumbrados de crianças olham a praia que cresce a toda a largura do seu olhar.
Praia de Morgavel
Aí está o mês de Agosto. O mês simbolicamente das férias. Isto porque há uma tradição de várias décadas em Portugal de Agosto ser um mês destinado a férias. Mas nem todos podem tirar férias em Agosto, alguém tem de ficar a trabalhar para manter o país a funcionar, tirando férias noutra altura do ano, agora muito usualmente na época natalícia.
Férias na acepção do termo não esteve (e para alguns ainda não está) ao
alcance de todos. O facto de Portugal ser um país atlântico não serviu só para
proporcionar e facilitar os Descobrimentos, também influencia a maior parte dos
seus habitantes na demanda do mar através das praias ao longo da sua costa. E
se os que viviam mais perto do litoral tinham a vida facilitada (até porque os
transportes eram mais limitados que actualmente), há algumas décadas havia
muito o hábito das famílias mais abastadas das cidades e das vilas do Interior
"irem a banhos" por Agosto. Figueira da Foz, Nazaré e depois Santa
Cruz (as tradicionais barraquinhas que se mantêm nestas praias ainda são o
sintoma disso) eram os destinos mais procurados nos anos 40 e 50 do século
passado. Geralmente das famílias que aproveitavam os dias quentes e de Sol não
fazia parte o principal responsável familiar, o qual ficava no seu espaço a
tomar conta de negócios e afins. Muitas jovens de famílias mais desfavorecidas
acompanhavam os "senhores" a banhos como criadas.
Nos anos 60 os portugueses começaram a "descobrir" o Algarve
como destino de férias e de praia, região que muitos estrangeiros (em especial
ingleses) já haviam "descoberto" muito antes. Por esta altura os dias
de férias da maioria dos portugueses não ultrapassavam as três semanas e não
raras vezes o designado chefe de família abdicava dos poucos dias de
descanso para trabalhar noutra empresa ou fazer os tão tradicionais biscates à
portuguesa. Recorde-se que a figura da mulher nessa altura era a de função doméstica,
não trabalhar para ficar em casa a cuidar dos filhos e dos afazeres caseiros.
Nos anos 70 e 80 o mês de Agosto ganhou ainda mais importância como
eleito mês de férias, com a vinda dos emigrantes portugueses, em especial de
França e da Alemanha. Para muitas crianças - apesar dos quase quatro meses de
férias escolares de então - Agosto era o auge desses meses com a vinda dos tios
e dos primos da estranja que vem de "vacanças". Nas cidades grandes, Agosto era o mês ideal para não
tirar férias, com menos trânsito, menos correria nas ruas, menos gente nos
transportes e menos azáfama nas empresas e nos organismos públicos.
Hoje em dia Agosto já não tem aquele simbolismo de férias do passado.
Agora as pessoas tiram férias em qualquer altura do ano. Se aqui chove e faz
frio no Inverno, na Tailândia ou no Brasil é Verão e as viagens para o
estrangeiro tornaram-se mais aliciantes (e até mais baratas) em muitos aspectos
do que as viagens dentro de Portugal. E muitos trabalhadores guardam as
tradicionais férias de Natal para comemorar a época familiar por
excelência.
Mas, em Agosto, em Abril, Outubro ou Dezembro, o que interessa é que as
férias são um bem que todos procuram e dos quais todos falam (antes e depois)
ao longo do ano. Por isso, a equipa redactorial do Synapsis deseja Boas Férias
a todos os leitores do seu Blog... estejam ou não de férias!
FICHA TÉCNICA
Coordenação Editorial de Salvador Peres e José Alex Gandum
Textos de José Alex Gandum e Salvador Peres
Imagens de José Alex Gandum e Salvador Peres
Edição de Salvador Peres










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