A praia do Senhor Hulot entre S. Torpes e Porto Covo e as férias em Agosto

 

Saint-Marc-sur-Mer - A praia do Senhor Hulot

A praia não é Saint-Marc-sur-Mer, situada na comuna de Saint-Nazaire, na região do Loire-Atlantique, onde Jaques Tati filmou “As férias do Senhor Hulot”. Esta de que falamos está localizada na portuguesíssima Costa Vicentina e chama-se Praia de Morgavel. Uma reentrância de mar, acobertada entre esparsos rochedos, com um extenso areal no pico da maré baixa, salpicado por pequenas lagoas que o mar vai deixando quando recua para a baixa-mar. Não estamos em Saint-Marc-sur-Mer, onde pontua o Hotel de La Plage, memória viva das peripécias do Senhor Hulot, mas sim num pequeno paraíso situado entre S. Torpes e Porto Covo.


Saint-Marc-sur-Mer - A praia do Senhor Hulot

Acima da praia, dois bons restaurantes, o Arte e Sal e o Bom Petisco. Mas não é disso que reza esta crónica. Logo à entrada do filme de Tati, há uma cena em que se vê uma camioneta da carreira a chegar à praia. À janela, rostos deslumbrados de crianças olham a praia que cresce a toda a largura do seu olhar.


Praia de Morgavel

Praia de Morgavel



Praia de Morgavel

E o ecrã é pincelado pelo colorido da alegre cacofonia dos veraneantes que mergulham nas ondas e riem e brincam na brancura do areal. Na praia de Saint-Marc-sur-Mer, recriada pelo génio de Jacques Tati, e na Praia de Morgavel, sobrevoa o mesmo encantamento da gritaria das crianças, saltitando na espuma da rebentação, o clamor que ressoa vindo do areal e o odor a maresia, os sons gorgolejantes da água, o crocitar das gaivotas, aquela indefinível sensação de liberdade que a praia nos oferece.


Praia de Morgavel

 

Praia de Morgavel


Saint-Marc-sur-Mer - Local de filmagens de "As Férias do Senhor Hulot"


Jacques Tati foi capaz de transpor para o ecrã toda essa magia, todo esse ambiente de vida e alegria que se vive numa praia. Quem viu o filme e depois vai até uma das muitas belas praias que pontuam a nossa imensa costa atlântica sabe do que falo.

Texto e fotografias de Salvador Peres


 Synapsis 15 anos - Um espaço de cidadania e expressão artística


Agosto e férias ou férias e Agosto



Aí está o mês de Agosto. O mês simbolicamente das férias. Isto porque há uma tradição de várias décadas em Portugal de Agosto ser um mês destinado a férias. Mas nem todos podem tirar férias em Agosto, alguém tem de ficar a trabalhar para manter o país a funcionar, tirando férias noutra altura do ano, agora muito usualmente na época natalícia.

Férias na acepção do termo não esteve (e para alguns ainda não está) ao alcance de todos. O facto de Portugal ser um país atlântico não serviu só para proporcionar e facilitar os Descobrimentos, também influencia a maior parte dos seus habitantes na demanda do mar através das praias ao longo da sua costa. E se os que viviam mais perto do litoral tinham a vida facilitada (até porque os transportes eram mais limitados que actualmente), há algumas décadas havia muito o hábito das famílias mais abastadas das cidades e das vilas do Interior "irem a banhos" por Agosto. Figueira da Foz, Nazaré e depois Santa Cruz (as tradicionais barraquinhas que se mantêm nestas praias ainda são o sintoma disso) eram os destinos mais procurados nos anos 40 e 50 do século passado. Geralmente das famílias que aproveitavam os dias quentes e de Sol não fazia parte o principal responsável familiar, o qual ficava no seu espaço a tomar conta de negócios e afins. Muitas jovens de famílias mais desfavorecidas acompanhavam os "senhores" a banhos como criadas. 

Nos anos 60 os portugueses começaram a "descobrir" o Algarve como destino de férias e de praia, região que muitos estrangeiros (em especial ingleses) já haviam "descoberto" muito antes. Por esta altura os dias de férias da maioria dos portugueses não ultrapassavam as três semanas e não raras vezes o designado chefe de família abdicava dos poucos dias de descanso para trabalhar noutra empresa ou fazer os tão tradicionais biscates à portuguesa. Recorde-se que a figura da mulher nessa altura era a de função doméstica, não trabalhar para ficar em casa a cuidar dos filhos e dos afazeres caseiros.

Nos anos 70 e 80 o mês de Agosto ganhou ainda mais importância como eleito mês de férias, com a vinda dos emigrantes portugueses, em especial de França e da Alemanha. Para muitas crianças - apesar dos quase quatro meses de férias escolares de então - Agosto era o auge desses meses com a vinda dos tios e dos primos da estranja que vem de "vacanças". Nas cidades grandes, Agosto era o mês ideal para não tirar férias, com menos trânsito, menos correria nas ruas, menos gente nos transportes e menos azáfama nas empresas e nos organismos públicos. 

Hoje em dia Agosto já não tem aquele simbolismo de férias do passado. Agora as pessoas tiram férias em qualquer altura do ano. Se aqui chove e faz frio no Inverno, na Tailândia ou no Brasil é Verão e as viagens para o estrangeiro tornaram-se mais aliciantes (e até mais baratas) em muitos aspectos do que as viagens dentro de Portugal. E muitos trabalhadores guardam as tradicionais férias de Natal para comemorar a época familiar por excelência. 

Mas, em Agosto, em Abril, Outubro ou Dezembro, o que interessa é que as férias são um bem que todos procuram e dos quais todos falam (antes e depois) ao longo do ano. Por isso, a equipa redactorial do Synapsis deseja Boas Férias a todos os leitores do seu Blog... estejam ou não de férias! 

Texto e fotografias de José Alex Gandum

 

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FICHA TÉCNICA

Coordenação Editorial de Salvador Peres e José Alex Gandum

 Textos de José Alex Gandum e Salvador Peres

 Imagens de José Alex Gandum e Salvador Peres

 Edição de Salvador Peres





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