A Boneca de Natal e mil outras imagens e histórias natalícias
Nos idos de 40 do século passado, quando a minha mãe era petiz, era
costume serem distribuídos brinquedos pelo Natal na Igreja da aldeia. Todos os
anos a minha mãe sonhava com uma boneca como as que já vira em
Natais anteriores nas mãos das meninas da sua idade que faziam parte de um
estrato social mais elevado... mas ela tinha sempre esperança que naquele Natal
é que seria a sua vez de segurar e apertar contra o peito uma daquelas bonecas
com vestidos lindos e cabelos compridos e sedosos.
Chegou mais um Natal. A minha mãe teria uns oito, nove anos, As crianças
ocupavam os bancos da frente na Igreja. A certa altura as senhoras começaram a
chamar algumas crianças pelo nome. A respectiva criança levantava-se, caminhava
até à estátua de Jesus Cristo, benzia-se e recebia uma boneca encantadora das
mãos das ditas senhoras da Igreja. E chamavam uma, mais uma, mais outra e mais
outra, todas as meninas filhas dos senhores da terra daqueles que tinham casas
grandes no centro da aldeia e que vestiam roupas bonitas. Em breve acabavam as
bonecas. A minha mãe (as irmãs e as primas) mais uma vez não tinham sido
contempladas com uma boneca de vestido bonito e cabelo sedoso. A minha mãe
largava-se em lágrimas, as irmãs mais velhas tentavam consolá-la dizendo que
"era assim, as meninas ricas é que recebiam sempre as bonecas".
Mais tarde, bem mais tarde, lá pelos fins dos anos 60, teria eu a idade
da minha mãe no episódio que contei nas linhas anteriores, o Natal era tão
emocionante que à meia noite e um minuto, tiritando de frio porque não havia
muitas condições para aquecer a casa, eu e a minha irmã mais velha já estávamos
a desembrulhar os presentes que os meus pais haviam acabado de colocar à beira
da Árvore de Natal. A minha irmã, mais expedita que eu, geralmente já sabia o
que ia receber do Pai Natal, pois conseguia descobrir e abrir sem danificar o
embrulho que invariavelmente continha uma boneca. Já eu aguentava até à última
e lá estava o carrinho que tanto tinha desejado na montra da loja de
brinquedos...
Entretanto, passaram muitos mais anos... hoje os presentes são colocados
com dias de antecedência debaixo da Árvore de Natal de cada casa ou à frente da
lareira que quase todos têm hoje para aquecer a casa e o Natal. Já não se
tirita de frio quando se abrem os presentes. Também já ninguém, nem as
crianças, têm o ímpeto de abrir os embrulhos antes de tempo, mas, neste
Natal, a minha mãe vai ter uma surpresa à maneira antiga: muitas décadas depois
do sonho de receber uma boneca, neste Natal ela vai ter nos braços a boneca tão
desejada. Nunca é tarde para ver um sonho realizado... e para brincar!
José Alex Gandum
Alberto Pereira
Capela da Natividade em Belém, Israel, 2016.
Máquina fotográfica Canon HG10.
Menino Natal
(Ao Renato Emanuel, meu filho,
meu ai jesus de agora)
Sempre que o Natal passa por nós
É no brilho dos teus olhos que o sinto,
Na alegria do teu rosto que o revejo
Nos teus braços abertos que o recebo.
Cada sorriso teu é uma bênção,
Cada expressão feliz é uma Festa
E as palavras que dizes nem as ouço
Concentrado que estou no movimento
Que o vaivém entre prendas gera em ti.
Tu és o meu presente todo o ano
Mas no Natal, sobretudo nesse dia
Em que te vejo de olhos boquiabertos,
Deixas de ser presente e és magia…
O Natal é sempre esta Festa-Desmedida
Em que investimos todo o coração
Para celebrar a Vida.
És o meu Sonho, o meu Amor.
Espécie de Menino-Redentor.
António Manuel dos Santos
Diná Lopes Peres
Que os sinos ressoem e levem uma mensagem de Harmonia, Paz e Amor.
Eduardo Carqueijeiro
Fatinhos e vestidinhos para a ocasião especial.
Francisco Moniz Borba
Hope & Desire! Praga, 2004.
Isabel Melo
Natal
Fazermos nossos os sorrisos do próximo,
Isso é Amor, que brilha como um sinal
Dar de nós e ajudar no caminho
Isso é palavra grande, belo como o Natal.
João Coelho
A Luz suave e Terna Aquece os corações, dá Cor e voz aos Sonhos
e dissipa a escuridão mais sombria. Faça-se Luz!
.
Nuno David
A noite acordou gelada
Das árvores, baqueou a passarada
O céu de breu, mais escuro ficou
Quando a hora certa se anunciou
Uma estrela veio de mansinho
E um pastor fez-se ao caminho
Às horas, o anjo falou
E, ao dizer, anunciou:
“Quem vier a nascer que se apresse
A hora é de quem a merece
Já na brisa ouço anunciar
O Divino que vem a chegar”
Salvador Peres
Aconteceu Natal na Travessa do Postigo da Pedra
Na Travessa do Postigo da Pedra
Transversal à Avenida Luísa Todi
Caminha um ser sem nome nem rosto
Que vive e respira sem ninguém se dar conta
Eu forjei-lhe uma alcunha: Zé do Postigo
Lá vai ele, alheio às luzes feéricas da quadra natalícia
Sem saber que agora já tem nome e rosto
Mas que vive e respira num tempo suspenso
Que durará somente o tempo do assomo do meu olhar
Lá vai o Zé do Postigo, envolto numa densa solidão
Corpo sumido, alma transparente
Saído ainda agora do desconhecido
E caminhando já para outro
Volveu agora para os lados da Avenida
Para trás, deixou um vislumbre de luz
E um breve Natal iluminou a Travessa do Postigo da Pedra.
Salvador Peres
PORTEFÓLIO NATALÍCIO
Fotografias de José Alex Gandum
Coordenação Editorial de Salvador Peres e José Alex Gandum
Textos de António Manuel dos Santos, José Alex Gandum e Salvador Peres
Imagens e legendas de Alberto Pereira, Diná Lopes Peres, Eduardo Carqueijeiro,
Francisco Moniz Borba, João Coelho e Nuno David
Portefólio Natalício de José Alex Gandum
Edição de Salvador Peres
O Synapsis deseja a todos os seus parceiros e amigos umas Festas Felizes e faz votos para que o Ano de 2026 possa trazer a todos paz, felicidade e bons sucessos pessoais e profissionais.
















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