Catarse - Maria Joaquina Soares




O azul líquido
dos teus olhos,
derramado em espelho
opaco à nudez do quarto
desatou em sobressalto
a fita do meu cabelo.

Por sobre-agitação cardíaca,
na cava da intempérie
nasciam esparsas palavras
à superfície da pele.

Extintas as convulsões,
o sono ficou à escuta.
Voo de pássaro vermelho,
Mussorgsky ou Paganini?
- Anjos da nossa fuga
Contra o tempo e o destino.

Antuérpia, 2001


Maria Joaquina Soares nasceu na vila alentejana do Torrão, mas cedo encontrou em Setúbal o seu mais permanente habitat. Pouco sedentária, escolheu outros lugares para estadas breves ou longas, como Sines, Monsaraz, Lisboa, Albufeira, Copenhaga, Madrid, Londres, de acordo com o desenvolvimento dos seus  projectos de vida e de investigação.
Em 1972, iniciou a sua actividade profissional como arqueóloga no Gabinete da Área de Sines. Em 1974, foi nomeada Directora do Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS), onde prossegue as mesmas funções.
Possui mais de uma centena de títulos publicados na sua área de investigação e no domínio da escrita criativa, dois livros de poesia.
Considera-se livre-pensadora, activista contra as desigualdades sociais e as discriminações de género, credo religioso ou raciais. Amante da Natureza, não tolera o desrespeito pelas formas de vida não humanas e, em geral, pela biodiversidade. 

É membro do Synapsis.

Comentários

  1. Aparece de quando em vez, quase de uma forma furtiva, um bonito poema desta minha amiga. Gosto muito deste poema

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