Ao encontro de dois poetas: Bocage e Sebastião da Gama

Esta semana, o Blogue Synapsis leva-os ao encontro de dois poetas: Bocage e Sebastião da Gama. Do vate sadino, numa reportagem à conferência “Ao encontro de Bocage…”, com Fátima Ribeiro de Medeiros; do poeta de “Serra-Mãe”, numa visita à Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama, acompanhando as filmagens de “Itinerário – O meu caminho até Sebastião da Gama”.


Ao encontro de Bocage…”, com Fátima Ribeiro de Medeiros



Numa pacata tarde de Domingo, com um sol de Inverno inundando a frondosa Avenida Luísa Todi, fui até ao Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal, MAEDS, assistir à conferência de Fátima Ribeiro de Medeiros, membro do grupo Synapsis, no âmbito de um excelente ciclo de conferências subordinadas ao tema “Bocage, o Poeta da Liberdade. A construção da memória nos 150 anos do monumento a Bocage.”

Fátima Ribeiro de Medeiros abordou um itinerário de leitura da poesia de Manuel Maria de Barbosa du Bocage pouco frequente, mas que permitiu ir ao encontro de várias facetas do poeta, do homem e do amigo reconhecido, que passam por vezes despercebidas, desenvolvendo nessa perspetiva a temática proposta, Ao encontro de Bocage entre públicas liberdades e privadas amizades.



Recorrendo a uma bibliografia diversificada, a conferencista, após ter feito referência à extensa produção de Manuel Maria, que se compõe de diversos géneros poéticos, de traduções e de composições em prosa, suportando as suas palavras em exemplos retirados das composições do vate, analisou a relação de amizade e cumplicidade ideológica entre o poeta e André da Ponte de Quental da Câmara e Sousa, apoiando as suas palavras em três poemas, onde o poeta fala dos infortúnios de ambos e manifesta a sua gratidão ao amigo, o soneto “Ao Sr. André da Ponte de Quental e Câmara, quando preso com o autor”, a ode “A André da Ponte de Quental e Câmara, [O tirano de Roma empunha o raio]”, e a epístola sobre a prisão do poeta, “Trabalhos da vida humana”. A leitura dessas composições, feita de forma muito expressiva, esteve a cargo de Maria Alice Silva. 

O pesado rigor de dia em dia

Se apure contra nós, opresso amigo;

Tolere, arraste vis grilhões contigo

Quem contigo altos bens gozar devia:

 

Da nossa amarga sorte escura, ímpia,

Colha triunfos tácito inimigo;

Sombra como a do lúgubre jazigo

Nos cubra de mortal melancolia:


Custam fadigas a virtude, a glória;

Por entre abrolhos se caminha ao monte,

Ao templo do honorífica Memória:


Posto que hoje a calúnia nos afronte,

Inda serão talvez na longa história

Dois nomes imortais – Bocage, e Ponte! 

 

(Ao Sr. André da Ponte Quental e Câmara, quando preso com o autor, Bocage, Sonetos)

Foram ainda desenvolvidos outros tópicos da poesia bocagiana, relacionados com o motivo da gratidão, presentes também nos poemas lidos, como as questões da liberdade e da premonição de posteridade que Manuel Maria vaticinava para si e para aqueles a quem se mostrou reconhecido pelo apoio recebido, cujos nomes deixou registados na sua poesia, nomeadamente o de André da Ponte de Quental, o “amável Ponte”, para quem predisse que “Os vindouros irão piedosos / Ler-nos na triste campa a história triste, / Darão flores, ó Ponte, às liras nossas, / Pranto a nossos desastres”, vaticinando a dimensão de posteridade para ambos, entre “flores” e “pranto”.

No final, a assistência, que enchia por completo a sala do MAEDS, manifestou forte empatia com o tema da conferência, mostrando-se interessada noutras abordagens na mesma linha.


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Na Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama


Num início de tarde domingueira, acompanhei a produção de “Itinerário - O meu caminho até Sebastião da Gama”, um filme de Alberto Pereira, naquele momento em rodagem na Casa-Memória Joana Luísa e Sebastião da Gama.




A Casa-Memória está localizada em Vila Nogueira de Azeitão. É constituída por dois pisos. No inferior, podemos apreciar uma desenvolvida cronologia sobre Sebastião da Gama e Joana Luísa. Em exposição, uma diversidade de objectos pessoais pertencentes ao poeta, dedicatórias de escritores e poetas contemporâneos, fitas académicas, diplomas honoríficos, fotografias e agendas de contactos. Nas paredes, fotografias de grande dimensão, revelando momentos passados na sua querida Serra da Arrábida. E uma tela, também de dimensões consideráveis, da autoria dos pintores Eduardo Carqueijeiro e Nuno David, pintada em 15 de Outubro de 2011, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Setúbal, no decurso do concerto “Pelo sonho é que vamos”, da banda e-Vox.

No piso superior, podemos visitar o Centro de Documentação e consultar diversas obras literárias, entre elas a primeira versão, inédita, do poema “Pelo sonho é que vamos”.

 

SP

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