O Anjo de Berlim saído das sombras de Lourdes Castro
Esta semana, o blogue Synapsis leva
até aos seus leitores um texto de Isabel Melo, sob o título “O Anjo de Berlim
saído das sombras de Lourdes Castro”, sobre a grande artística plástica recentemente
desaparecida; a sugestão de audição daquele que é considerado o melhor
álbum de 2021, "Promises - Pharaoh Sanders, Floating points & The
London Symphony Orchestra" e a sugestão de participação numa Acção
de Reflorestação na Mata Nacional das
Machadas/Reserva Natural Local Sapal de Coina, Barreiro.
A fotografia que capeia o blogue desta
semana, da autoria de Eduardo Carqueijeiro, tem por título “Noite calma sobre a
cidade”.
O
Anjo de Berlim saído das sombras de Lourdes Castro
Lourdes Castro
nasceu na Madeira, em 1930 e partiu este sábado, a 8 de Janeiro de 2022. Deixou-nos
para sempre o seu “Anjo de Berlim”. A grande aproximação a esta grande artista contemporânea
internacional deu-se no dia 27 de Dezembro de 2010, aquando da inauguração da
sua obra, o “Anjo de Berlim”, na Capela do Rato. Na altura, o então Padre e
hoje Cardeal Tolentino de Mendonça, no “Diálogo entre Arte Contemporânea e
Sagrado”, pediu a Lourdes Castro que fizesse algo para a Capela, tendo ela
oferecido o Anjo, obra produzida quando vivia em Berlim e que, durante muito
tempo, lá ficou na sua janela. Impressionou-a o facto de encaixar na perfeição
no Altar Mor, parede da mesma forma oval, tal como a da sua casa.
Contou, nesse
dia, a artista, que o “Anjo de Berlim” nasceu num Natal em que vivia com Manuel
Zimbro, num atelier com duas grandes janelas, de onde viam a Mariannenplaz. Na
véspera de Natal nevava e viam as luzes da praça dentro de casa. Lembraram-se,
então, de fazer um anjo e de o porem à janela com uma lâmpada, que à noite
acendiam antes de todas as outra luzes, vendo-se, para quem olhava da rua, a
sombra projectada do Anjo. Amigos tiraram fotografias e começou a escrever-se
sobre o “Anjo de Berlim”.
Na sua peculiar
carreira, Lourdes Castro ficou especialmente conhecida pelo trabalho com a
sombra. Dos contornos de pessoas, passou à sombra no papel. Criou o grande “Herbário
de Sombras” e fez o “Teatro das Sombras”, em Berlim. Como era difícil pintar a
sombra em tela, usou placas de plexiglas. Fez a sombra do galerista Edouard
Loe, irmão do galerista de Vieira da Silva, pintada em tinta de alumínio.
Depois, fez sombras bordadas em lençóis, fez livros de artista e bordou páginas
de livros. Sempre peculiar na arte, usou as sombras para as pôr em movimento. Quando
lhe fizeram um documentário sobre as suas sombras, disse que se há uma
projecção de algo é porque há uma luz atrás.
Lourdes Castro, com René Bertholo, com quem era então casada, fundaram, em Paris, com outros artistas, a Revista “KWY”. Ria-se quando lhe perguntavam se a sigla significava “Ká Vamos Indo”, por serem inconformados com o sistema, especialmente com o estado da arte. Respondia que era tão simplesmente composto pelas letras que faltavam no alfabeto português e não pelo que tanta tinta fez correr. Em Paris, conviveu de perto e trabalhou com Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes.
Sempre viajante, depois de viver em
Inglaterra, Paris, Alemanha, voltou para a Madeira em 1983. Voltou para o
grande espaço que teve na infância e na juventude, pois queria ter um jardim e
ver o mar todos os dias. Sobre ela, dizia que era feita de acasos e de um
agregado de causas e efeitos, em que nos vamos construindo.
Meses antes de
falecer, com os seus noventa e um anos, andava pelo jardim composto de plantas
cultivadas e selvagens, afirmando, então, que: “Eu não gosto do nome velhice e
então inventei outra palavra que é “altitude”. Do alemão alt, idade.
Quando se entra em altitude, é assim”.
Sobre o desaparecimento de Lourdes Castro, o Cardeal Tolentino de Mendonça disse que para a artista “a arte era um intransigente pensamento sobre o estar”. Por isso, quando lhe perguntavam como estava, respondia na sua altitude: “Estou”.
Fascinante na
arte da obra e da vida, dizia Lourdes Castro que os seus lemas de vida eram:
“Guarda para sempre a alegria na fachada da tua casa” e “Caminha como o teu
coração te leva”. Estou certa que o meu coração me levará a recordar Lourdes
Castro sempre que olhe para o seu “Anjo de Berlim”.
Isabel Melo
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"Promises - Pharaoh Sanders,
Floating points & The London Symphony Orchestra"
https://youtube.com/playlist?list=PLloMpDDjUdyMr6ews6hNLt_tCIrA5DCM8
Considerado por algumas fontes o melhor álbum de 2021, junta um guru histórico do jazz, uma esperança da eletrónica-ambiente e um colectivo incontornável da música erudita/clássica.
Há que ouvir os diferentes movimentos para se perceber as subtilezas e o alcance da composição.
Eduardo Carqueijeiro
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Reflorestar a Mata da Machada
15 de Janeiro, Mata Nacional das Machadas/Reserva
Natural Local Sapal de Coina, Barreiro.
O Centro de Educação Ambiental convida-o a começar o
ano 2022 ajudando a reflorestar a Mata da Machada, o espaço natural de
excelência do nosso concelho e que pertence a todos.
Dia 15 de janeiro, das 10h00 às 12h00. Participação
gratuita.
Mais informações: 800 912 070 (Linha Verde)
Eduardo Carqueijeiro
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