“A velocidade é irrelevante se vais na direcção errada” e o Pescador de Memórias
Esta semana, o Blogue Synapsis fala sobre a conferência de Viriato
Soromenho-Marques nos serões de Arte e Ciência Synapsis.
“Para Onde Vamos? Entre Distopia e
Utopia” foi o tema da conferência que levou o filósofo Viriato
Soromenho-Marques aos serões Synapsis, no passado dia 4 de Março, no MAEDS.
Ao longo da
sessão focou-se nos temas “Onde Estamos?”, “Da Utopia à Distopia” e “Da
Distopia à Utopia do ‘Regresso à Terra’.”
E Sugere a
apresentação do livro de Banda Desenhada “O Pescador de Memórias”, de Miguel
Peres e Majory Yokomizo, que terá lugar na Casa da Cultura, em Setúbal, na Sala
José Afonso, no dia 12 de Março, pelas 15h30.
Viriato Soromenho-Marques nos serões Synapsis
“A velocidade
é irrelevante se vais na direcção errada”
“Para Onde
Vamos? Entre Distopia e Utopia” foi o tema da conferência que levou o filósofo
Viriato Soromenho-Marques aos serões “Sextas de Arte de Ciência SYNAPSIS”, no
passado dia 4 de Março.
Ao longo da
sessão focou-se nos temas “Onde Estamos?”, “Da Utopia à Distopia” e “Da
Distopia à Utopia do ‘Regresso à Terra’.”
Soromenho-Marques
começou por reflectir sobre o futuro. Mostrou que, já no final dos anos 70 do
século passado, tinha deixado escrito num manifesto aquilo que, infelizmente,
se viria a revelar uma realidade que as últimas décadas têm confirmado: “Nas próximas
décadas a humanidade será submetida a uma prova duríssima, a um teste de
resistência vital para a sua sobrevivência na face do nosso planeta…”. No mesmo
manifesto, referiu que “Chegámos a uma encruzilhada em que a História e a Natureza
ameaçam colidir. O poderio humano ramificou-se a todos os cantos do planeta. Se
esse poderio continuar a ser movido pelas forças cegas do lucro e da ganância
poderemos estar certos que do encontro da História e da Natureza resultará o
Apocalipse, o fim da História e a destruição da Natureza.”
Continuando a
sua dissertação, citou Bertrand Russell que afirmou, em 1949, que “Tanto a
indústria como a agricultura de um modo continuamente crescente, estão a ser
desenvolvidas por vias que esgotam o capital mundial de recursos naturais.” E Dwight
Eisenhower, que, no discurso de fim de mandato de presidente dos EUA, afirmou
que “Nós (…) devemos evitar o impulso de viver apenas para o hoje, saqueando,
para nosso próprio conforto e conveniência, os preciosos recursos do amanhã.
Não podemos hipotecar os bens materiais dos nossos netos sem arriscar a perda
também da sua herança política e espiritual. Queremos que a democracia
sobreviva por todas as gerações futuras, e que não se torne o fantasma
insolvente do amanhã.”
Uma nova «época» geológica do Antropoceno?
Referiu, por
fim, as teses de Paul Crutzen e Eugene Stoermer que se referiram ao “Poderio
humano como uma nova «época» geológica do Antropoceno”: Determinar uma data
mais específica para a alvorada do “antropoceno” parece algo arbitrário, mas
nós propomos a segunda parte do século XVIII, embora tenhamos consciência de
que propostas alternativas podem ser realizadas (algumas podem mesmo incluir
todo o holoceno). Contudo, nós propomos esta datação porque nos últimos dois
séculos os efeitos globais da actividade humana tornaram-se claramente
notórios.”
Duas frases
marcaram a dissertação de Soromenho-Marques: “A velocidade é irrelevante se
vais na direcção errada”, de Mahatma Gandhi, e “Nem tudo o que enfrentamos pode
ser alterado, mas nada pode ser alterado sem ser enfrentado.”, do ensaísta e
dramaturgo James Baldwin.
Cooperar para enfrentar as ameaças comuns
Chamou a atenção
para a necessidade imperiosa de uma política de cooperação para enfrentar
ameaças existenciais comuns, a crise ambiental e climática e garantir a paz.
Para isso, lembrou a necessidade de adoptar o princípio da humildade prudente,
que lembra que sabemos muito pouco (ou nada) de quase tudo; que afirma que não
devemos realizar tudo o que nos é possível realizar (contra a arrogância
tecnológica) e que devemos escutar os sinais do mundo e ouvir as vozes e os
saberes dos outros.
Fechou a sua intervenção com um apelo a que reflictamos sobre as três chaves do futuro: o que conhecemos, o que desconhecemos e o que podemos (e devemos) fazer.
Texto: Salvador Peres
Fotos: José Alex Gandum
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"O Pescador de Memórias”, de Miguel Peres e Majory Yokomizo
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