A história da Meia Praia e sugestão de visita a Alcobaça
Esta semana o blog Synapsis desmistifica os 'Índios da Meia Praia', poema e canção de José Afonso, que muitos de nós trauteamos sem conhecermos exactamente onde é a Meia Praia e os factos sociais que deram origem aos "Índios da Meia Praia". O texto de Salvador Peres ajuda a compreender uma parte da história recente do Algarve, e não só.
Ainda por terras do Oeste, o blog Synapsis sugere desta vez uma viagem/visita a Alcobaça, sem esquecer a história do local e os doces conventuais típicos daquela cidade.
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A Meia Praia
mesmo ali ao pé de Lagos
Aldeia
da Meia Praia
Ali
mesmo ao pé de Lagos
Vou
fazer-te uma cantiga
Da
melhor que sei e faço (*)
Foi assim, em Agosto de 1982: uma curta e inesquecível viagem de comboio, desde Alvor até Lagos, passando pelos apeadeiros de Figueira, Mexilhoeira Grande, Odiáxere e Meia Praia. Chegados à estação de Lagos, trepámos as dunas e chegámos à Meia Praia, ainda pouco frequentada, nesses tempos. A Meia Praia é um lugar de areias douradas, com um mar sereno estendendo-se a perder de vista, que enforma a baía de Lagos. O areal começa junto ao molhe norte da Ribeira de Bensafrim, alongando-se por mais de cinco quilómetros até ao molhe poente da Ria de Alvor.
Nesse
tempo, o turismo ainda não tinha descoberto esta maravilha do Barlavento Algarvio.
Não tinham começado a aterrar no Algarve, como hoje, milhares de turistas
vindos de vários pontos da Europa, sobretudo do Reino Unido.
Mas
já não eram visíveis os vestígios da população piscatória que, na década de 50
do século passado, se radicou entre a praia e a linha de comboio que termina em
Lagos, formando uma comunidade de gentes vindas do Sotavento Algarvio,
sobretudo gente muito pobre oriunda de Monte Gordo, que ficou conhecida como os
“Índios
da Meia Praia”. Reza a crónica da época que muitos
chegaram a pé, outros a pedir esmola para comprar o bilhete para a cidade de
Lagos e ali começaram a construir, primeiro cabanas de colmo.
De
Montegordo vieram
Alguns
por seu próprio pé
Um
chegou de bicicleta
Outro
foi de marcha à ré (*)
Vinte anos passados, já nos anos 70, as cabanas foram sendo substituídas por barracas de zinco e platex. Mas somente após a Revolução de Abril foi possível a esta comunidade de pescadores ter direito a casa condigna, através do Serviço Ambulatório de Apoio Local, criado em 1974.
A
história dos Índios da Meia Praia ficou imortalizada no álbum “Com as
Minhas Tamanquinhas”, de José Afonso, lançado em 1976. “Os Índios da Meia Praia” é um dos temas
que integra o álbum.
E também no documentário “Índios da Meia Praia”, de 1976, de autoria de
António Cunha Telles.
Eram mulheres e crianças
Cada um
com o seu tijolo
Isto aqui era uma orquestra
quem diz o contrário é tolo (*)
Hoje, a área envolvente da Meia Praia é um dos principais destinos turísticos de Lagos. Uma plêiade de apartamentos e hotéis enxameia a paisagem no amplo espaço a norte da linha de caminho de ferro, entendendo-se da Ribeira de Bensafrim até à Ria do Alvor. A praia, felizmente, permanece intocada. Na acalmia dos dias quentes de Verão ainda se respira o aroma dos pinhais e matos rasteiros que preenchem o que outrora fora morada de alfarrobeiras e oliveiras.
Desse
passado revolucionário, romantizado pelo nome que se lhe colou, nada já existe,
a não ser uma vaga memória. Resta a Meia Praia, esse espaço dotado de uma
beleza serena, que outrora albergou gentes que vivenciaram um tempo único de
utopia e liberdade.
(*) José Afonso, do álbum “Com as minhas tamanquinhas”, 1976
Salvador
Peres
14 de
Agosto de 2022
Alcobaça é uma cidade portuguesa do distrito de Leiria, situada na histórica província da Estremadura e integrando a Comunidade Intermunicipal do Oeste na região do Centro, com cerca de 7 000 habitantes no seu núcleo central.
No entanto, a área urbana abrange cerca de 18 000 habitantes distribuído pelas freguesias de Alcobaça e Vestiaria e por parte das freguesias de Aljubarrota, Maiorga, Évora de Alcobaça. Foi elevada ao estatuto de cidade em 1995. É célebre pela existência da Real Abadia do Mosteiro de Alcobaça, o qual tornou-se num monumento de forte atração turística.
Alcobaça é banhada pelos rios Alcoa e Baça, nomes de cuja aglutinação a tradição faz derivar o seu nome – o que está longe de ser consensual.
Alcobaça é ainda famosa pelos seus doces conventuais, bem demonstrados na Pastelaria Alcoa (ver foto)
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