Por falar de livros...
Inédito na
literatura em Portugal: livros de Banda Desenhada nos primeiros lugares de
vendas no ranking da livraria da FNAC. E a Banda Desenhada não ocupa apenas o
primeiro lugar ("Manual de Instruções", de Nuno Markl e Miguel
Jorge), mas também o segundo ("O Nome da Rosa", de Umberto Eco e Milo
Manara). Alguma coisa está a mudar nos interesses literários por parte dos
leitores portugueses, e a simbiose entre o texto e a imagem está a ganhar
espaço.
Um livro de
Banda Desenhada não tem obrigatoriamente de ser feito com seres fantásticos,
que voam vestidos com fatos de Carnaval, ou que lançam teias de aranha das suas
mãos, ou outros superheróis com super poderes. Um livro de Banda Desenhada pode
também abordar a vida quotidiana das pessoas ditas normais. E seria bom que
houvesse um Manual de Instruções para gerir a vida. Seria bom que houvesse, não
havia mas agora há; Nuno Markl, homem da rádio, da TV e muito mais, pegou na
história da sua vida, em especial nos anos, e Miguel Jorge, ilustrador, autor e
editor de Banda Desenhada, construiu uma história desenhada divertida,
expressiva e cheia de humanidade.
Nas fotos:
ranking de vendas de livros de ficção na FNAC, e o recente lançamento do livro
"Manual de Instruções" na FNAC do Centro Comercial Colombo, em
Lisboa, com a presença dos dois autores: Nuno Markl e Miguel Jorge, perante uma
vasta assistência.
Texto e fotos: José Alex Gandum
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Escrito nos Livros
“A Arte da Vida” de Zygmunt Bauman
“Como sugeriu Michel Foucault, só uma conclusão pode seguir-se à
afirmação de que “a identidade não é dada”: as nossas identidades (ou seja as
respostas às perguntas ”Quem sou eu?”, “Qual o meu lugar no mundo?, “Porque
estou aqui?”) precisam de ser criadas, tal como são criadas as obras
de arte. Para todos os efeitos, a pergunta “Pode a vida de cada ser humano
tornar-se uma obra de arte?” (ou, mais diretamente, “Será que todo e qualquer
indivíduo pode ser o artista da sua vida?”) é puramente retórica, sendo a
resposta “Sim” uma conclusão inevitável.”
Zygmunt Bauman inquieta-nos. De modo quase sereno, neste livro publicado em 2008, este pensador (criador do conceito de “modernidade líquida”), reflecte sobre a felicidade, os caminhos enviezados pelos quais temos optado para a procurar, e os dilemas que nos criamos nessa busca armadilhada. Na Introdução ficamos logo, e ele assume esse objectivo, desconcertados “O Que Há de Errado com a Felicidade?”, pergunta. E acaba por concluir “Parece que a busca dos seres humanos pela felicidade pode muito bem mostrar-se responsável pelo seu próprio fracasso.”
Aparentemente, mais riqueza, resultante do crescimento económico e oferta
disponível de bens, dinheiro e crédito, não tem correspondido a mais
felicidade, ou pelo menos ao aumento do nível de felicidade geral expectável.
Zygmunt Bauman critica a sociedade de consumo, do comprar para obter
felicidade, e como nos tornamos cada vez mais egoístas, instáveis, e pouco
solidários. Deixamos de nos preocupar e motivar com o bem-estar da comunidade,
para centrarmos o nosso propósito de vida e felicidade apenas em nós,
individualmente.
Não é difícil, apesar de pouco simpático, concordarmos com muitas das
conclusões apresentadas. O espelho que nos coloca em frente, reflecte-nos
correctamente, mas não nos diz, infelizmente, como “Nós, os Artistas da Vida”
poderemos fazer, garantidamente, Boa Arte. Mas vale a pena ler!
A Escolha de João Coelho
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Palavras que não mudaram o mundo
É
assim o amor
Dávamos longos passeios pelas amorosas
nuvens transparentes do céu imenso, eu, voando baixo, ela, uma oitava acima; ou
então, ambos afinados pelo som do vento, soprando em sétimas subtis, sextas
divinas ou décimas melancólicas e suaves.
A nossa vida era a “Sonata para piano e
violoncelo” de Chopin; o “Sonho de uma noite de Verão” de Mendelssohn; a
“Gretchen am Spinnrade” de Schubert; a “Oratória” de Beethoven; o “Rigolleto”
ou a “Traviatta” de Verdi; o “Romeu e Julieta” de Gounoud; as “Danças Húngaras”
de Brahms; o “Lago dos Cisnes” de Tchaikovsky; os “Jardins Sous la Pluie” de
Debussy; o “Requiem” de Mozart; ou o “Messias” de Haendel.
Era, também, o deleite inexcedível do
“Gargântua e Pantagruel” de Rabelais; o “Outono em Pequim” de Boris Vian; o
“Corvo” de Edgar Poe; os “Paraísos Artificiais” de Baudelaire; As “Crónicas
Italianas” de Stendhal; os “Contos Fantásticos” de Maupassant; a “Tabacaria” de
Fernando Pessoa; ou a “Os Irmãos Karamazov” de Dostoiévsky.
O nosso amor corria, assim, como um
ribeiro de uma nascente fresca e límpida, espraiando-se docemente numa fértil
planície semeada de malmequeres, papoilas, rosmaninho, couves lombardas, zebrina pendula, musgo, repolhos,
romaneiras e pessegueiros; margaridas, açucenas, dendrodeum praealtum, rábanos, almofadas-de-sogra,
amores-perfeitos-do-mato, alfaces e orégãos; ciprestes, plátanos, batata-doce,
chá-de-tília, pseuderanthemum
atropurpureum, rosmaninho, abóboras, túlipas e coentros; eucaliptos,
piteiras, hortelã, espinafres, campanula
isophylla, codiaeum variegatum pictum,
acácias, palmeiras e salsa.
Um dia, porém, discutimos por uma
qualquer coisa sem importância e nunca mais nos pudemos ver um ao outro. A
razão desta súbita desarmonia, nenhum de nós alguma vez a soube. Separámo-nos
como dois bons cristãos, autênticos na nossa fé, coerência e verdade. E foi
tudo.
Salvador Peres
Quando os
militares também cantavam
Duarte Mendes
(n-1947) já era militar (viria a ser um dos Capitães de Abril de 1974) quando
ganhou o Festival RTP da Canção, em 1975, com uma canção que ficou como uma das
mais bonitas melodias que passaram pela principal mostra de música portuguesa
(em especial nos anos 60 e 70 do século XX), "Madrugada" (letra e
música de José Luís Tinoco). Duarte Mendes já participava no Festival desde
1970, sempre com temas de grandes compositores e poetas, cujas letras e
composições poderiam ser de hoje, já que não perderam a actualidade. No
ano conturbado política e socialmente de 1975, o Festival RTP da Canção juntou
cantores e autores que passariam a fazer parte até hoje do melhor da música
portuguesa desde sempre, como Jorge Palma, Sérgio Godinho, José Mário Branco,
Paco Bandeira ou Paulo de Carvalho (que havia ganho no ano anterior com a
célebre e significativa canção "E depois do adeus").
De "Madrugada"
(https://www.youtube.com/watch?v=gDlTwTRU5hs) pode dizer-se que é uma canção suavemente
revolucionária, como se disse na altura em relação às restantes concorrentes
nesse ano. Começa com "os que morreram sem saber porquê", terminando
com "o canto assim nunca é demais!". Três anos antes, Duarte Mendes
havia ganho o Prémio de Interpretação com "Cidade Alheia" (https://www.youtube.com/watch?v=lnGEHNJKfTE - José Luís Tinoco/Pedro Támem), uma
das composições mais bem estruturadas da música portuguesa, talvez ao lado de
"Fala do Homem Nascido" (António Gedeão/José Niza, onde Duarte Mendes
também participou - https://www.youtube.com/watch?v=HjKqWINyjJg) ou "Canção de Madrugar (Ary dos Santos/Nazareth
Fernandes, interpretada por Hugo Maia de Loureiro - https://www.youtube.com/watch?v=Vl1PN2ZtIbA).
Sobre "Madrugada" é impressionante, no bom sentido, os elogios de um youtuber brasileiro, à interpretação e aos instrumentais da canção de Duarte Mendes, equiparando-o aos grandes cantores românticos, como Roberto Carlos (https://www.youtube.com/watch?v=7Faef7pfUJI). E o que dizer da versão recente da Estudantina Universitária de Coimbra (https://www.youtube.com/watch?v=NMYUp5fTqHk )?
A escolha de José Alex Gandum
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No MAEDS
Black Eclectic Anthropocene
de Iyallola ‘Iffy’ Tillieu
A
artista nascida em
Bruxelas, em 1978, de mãe Belga e pai Beninense, atribui aos pais e à família
um papel importante nas suas obras, estando eles simultaneamente presentes e
ausentes. IFFY é uma artista concetual e visual que trabalha com
diferentes media: pintura, design de tecidos, performance de
vídeo. Estudou Artes em adolescente e, mais tarde, realizou um mestrado em
Belas Artes, na Universidade de Gante e Bruxelas. É autodidata em poesia e em
diversas ciências sociais que utiliza para as suas videoperformances, que já foram exibidas
internacionalmente. As obras de IFFY intersetam arte e artesanato, alternativa queer e
normatividade, filosofia e espiritualidade, tecnologia e ritual,
explorando metafeminismos e procurando expandir fronteiras visíveis e
invisíveis.
A sua
mostra “Black Eclectic Anthropcene” assenta num conceito de
arte como chave poderosa para um novo caminho humano, onde a criatividade e a
amizade não têm fronteiras, tal como o anseio de liberdade e de justiça social.
O trabalho de
Iyallola ‘Iffy’ Tillieu deve ser entendido como uma versão artística de notas
pessoais ou de rodapé sobre algumas das obras e livros que leu (Yusoff,
Kilomba, Mbembe, etc.) são principalmente análises recentes da história da
escravatura e do colonialismo referentes a vários estereótipos relativamente
aos negros.
A exposição
estará patente no MAEDS – Museu de Arqueologia e Etnografia até ao dia 2 de
setembro.
A entrada é
livre.
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Na minha cidade há um Rio
Espreitando o Sado através do Parque Urbano de Albarquel
Salvador Peres
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