Antes que a Terra trate de nós

 


Portugal tem a sua costa atlântica numa das linhas de fractura, onde se começou a separar, há cerca de 300 milhões de anos, o super-continente Pangeia. Dessa mole imensa, rodeada por um vasto mar a que se convencionou chamar Pantalassa, duas massas gigantes divergiram, criando, a norte, a Laurásia (actuais América do Norte, Europa e Ásia e Ártico) e, a sul, o Gondwana (actuais América do Sul, África, Índia e Austrália). Hoje, um extenso oceano separa-nos do continente americano. Mas, tempos houve, no processo de deslocamento das placas tectónicas, em que nos separava apenas uma estreita toalha de água. O afastamento seguiu o seu curso inexorável e continua, sem descanso, apartando terras que outrora foram um mesmo espaço geográfico.

Por essas épocas remotas, em pleno Paleozoico, compreendido, aproximadamente, entre há 542 milhões e 251 milhões de anos, deu-se início a um tempo definido pela erupção da vida nos mares. Pelo fim do Paleozoico, que marca a passagem da Era Paleozoica para a Mesozoica, ocorreu uma extinção maciça, a maior da história da vida na Terra, que extinguiu aproximadamente 90% de todas as espécies animais marinhas, provavelmente resultante de um período de aquecimento global.

Outros eventos de aquecimento global foram marcando a vida da Terra ao longo da sua longa história, tendo esta sofrido mutações climáticas globais de grande amplitude. A Terra passou já por períodos em que o clima era muito quente, com alguns graus acima da temperatura média actual, e muito frio, devendo ter desaparecido por completo, ao tempo, o gelo que cobria as montanhas e as zonas polares.

Claro está que esses acontecimentos, todos fruto de causas naturais, ocorreram antes do aparecimento dos hominídeos e do advento da história. Os hominídeos, esses seres dotados de grande inteligência, mas de pouco senso, somos nós. E o hominídeo do topo da escala, o Homo sapiens, que evoluiu para o homem moderno, só precisou de cerca de 400 mil anos para se apoderar do clima e fazer dele, em duas centenas de anos, o que as mudanças climáticas, concebidas pela natureza, levaram milhões de anos a gerar. A escala das mudanças que levam ao aquecimento global terá passado do milhão de anos para a centúria?

Ainda é cedo para tirar conclusões definitivas, tendo em vista que a análise estatística do clima apenas foi iniciada por finais do século XIX. Dizem a prudência e o bom senso, contudo, que é mais avisado irmos tratando bem da Terra antes que a Terra acabe por tratar de nós.

 

Salvador Peres


CINEMA



A Serra de Agostinho no Italy International Film Festival            

“A Serra de Agostinho”, filme de Alberto Pereira, continua a competir em vários festivais internacionais de cinema. Desta vez irá integrar a selecção oficial do Italy International Film Festival, entre os dias 23 e 30 de Janeiro.

Ao filme foi já atribuído, pelo júri do festival de cinema TokioFilmAwards, realizado na cidade de Tóquio, no Japão, o primeiro prémio na categoria de Longa Metragem em Documentário. Ganhou, também, uma Menção Honrosa no Festival de Curtas Metragens de Cannes.

 


“A Serra de Agostinho”, estreado em 2020, é uma curta metragem sobre a vida ascética do poeta e eremita Frei Agostinho da Cruz. O filme evoca o poeta, acompanhando-o numa revisitação à Serra da Arrábida, pelos lugares que calcorreou e viveu, desde que, em 1605, rumou à Serra para ali viver como eremita.


O guião e a banda sonora do filme são da autoria de Salvador Peres. Nuno David vestiu a personagem de Frei Agostinho da Cruz e os declamadores Dina Barco e João Completo deram voz à narrativa do filme.

 

A Memória da Água inspira novo filme de Alberto Pereira


Alberto Pereira deu já início à produção do seu novo filme. Inspirado na crónica “A Memória da Água”, um texto original de Salvador Peres, o filme mergulha no Rio Sado, desde a nascente à foz, e nas memórias guardadas no imenso ventre líquido do seu estuário.

Os rios escorrem por montes e vales na ânsia do mar imenso. Desde a nascente, na Serra da Vigia, às portas de Ourique, até ao amplo estuário que enlaça, numa bojuda baía, a cidade de Setúbal e a Península de Tróia, o Sado é fiel a este velhíssimo adágio. Ele trepa, ligeiro e rumorejante, Alentejo acima, buscando o aconchego do vasto ventre do Atlântico. Essa água, que vem dos confins das serranias alentejanas até às margens troianas e sadinas, é um ser vivo com memória.”

O personagem central do filme é um fotógrafo que parte em busca dos antigos barcos brancos de madeira que, no passado, transportaram milhares de pessoas entre Setúbal e Tróia, e, hoje, jazem, abandonados, num areal suburbano e solitário da Mitrena.

No fluir dos anos, que se vestem de acordo com as modas dos tempos, há um lugar para a novidade. E há um lugar para a memória. Um futuro sem memória é um lugar sem futuro. Felizmente, os velhinhos barcos, que fenecem na esquecida Rampa das Baleias, entre eles, o “Recordação”, memória amarga e esquecida a desfazer-se numa praia solitária, vivem eternamente na memória do azul estuarino do Sado. Porque a água, contrariamente aos homens que usam e esquecem as coisas que lhe foram úteis, tem memória e futuro”.

 SP 

MÚSICA



Concerto de órgão e Canto em S. Sebastião

Organizado pelos Amigos da Paróquia de S. Sebastião, vai ter lugar a 20 de Janeiro, pelas 16h30, na Igreja de S. Sebastião um concerto de órgão e Canto.

No órgão estará João Santos, músico altamente prestigiado a nível nacional e internacional, sendo um dos responsáveis pelo concerto de seis de órgãos de tubo de Mafra. João Santos é, actualmente, o organista titular da sé de Leiria.

No canto, estará a soprano Manuela Moniz, cantora lírica detentora também de um vasto currículo nacional e internacional.



O custo do ingresso no concerto é de €15. As reservas devem ser feitas para email antoniomelo18@sapo.pt ou através do telefone 919521778.

SP

POESIA



40 Anos sem Ary dos Santos

Dia 18 de Janeiro assinalou 40 anos sobre a morte de José Carlos Ary dos Santos, o poeta que talvez melhor personificou o antes, o durante e o depois do 25 de Abril de 1974. Irreverente e talentoso, Ary dos Santos conseguiu ludibriar a cinzentona censura com algumas frases em canções que na altura foram consideradas "muito à frente" num país quase paralisado culturalmente. Na canção 'Desfolhada', interpretada por Simone de Oliveira, e vencedora do Festival da Canção de 1969, a letra dizia, entre outras coisas, "quem faz um filho, fá-lo por gosto...", No ano seguinte, numa das canções mais criativas da música portuguesa, 'Canção de Madrugar', interpretada por Hugo Maia de Loureiro, Ary dos Santos dizia "Então nem choros, nem medos, nem uivos, nem gritos, nem...Pedras, nem facas, nem fomes, nem secas, nem... Feras, nem ferros, nem farpas, nem farsas, nem... mal!". Mas, mais forte ainda foi a canção 'Tourada', composta e interpretada por Fernando Tordo, vencedora do Festival da Canção de 1973, onde Ary dos Santos dizia: "Nós vamos pegar o mundo pelos cornos da desgraça, e fazermos da tristeza Graça".

José Alex Gandum


EXPOSIÇÕES


Exposição '50 Pedras pela Liberdade'

Foi inaugurada no dia 18 deste mês e estará patente na Associação 25 de Abril, em Lisboa, a Exposição '50 Pedras pela Liberdade', evocatória dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, que se assinalam este ano.

A Exposição conta com a participação de 50 artistas, onde cada qual "trabalha" uma Pedra tendo em mente os Anos de Liberdade, uma por cada ano. 

A organização é da Associação 25 de Abril, contando com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa, da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa e do Espaço Imperfeito, local para onde irá a Exposição em data a anunciar. 

Entrada livre



Workshop de Pintura no Espaço Imperfeito

No próximo Sábado, dia 20 de Janeiro, o pintor Reinaldo Caó, que neste momento está a expor na Casa da Baía, em Setúbal, vai ministrar um workshop de pintura no Espaço Imperfeito, em Lisboa, a partir das 15 horas, seguido de palestra. O evento insere-se na Finissage da Exposição 'Reencontro de Duas Paletas' (com a participação dos pintores Reinaldo Caó e Beth Lisbôa).

A Exposição dos dois artistas na Casa da Baía, em Setúbal, estará patente até dia 27 de Janeiro.

José Alex Gandum

5.º Congresso dos Jornalistas



Começou ontem, quinta-feira, o Congresso dos Jornalistas, que irá decorrer até Domingo, no Cinema S. Jorge, em Lisboa. Na abertura, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, abordou os desafios que o jornalismo enfrenta em Portugal, nomeadamente com o recente caso de eventual despedimento colectivo dos profissionais da Global Media, que esteve representado por um jornalista de cada órgão de comunicação atingido: DN, JN, O Jogo, Dinheiro Vivo e TSF. 


José Alex Gandum

FICHA TÉCNICA

 Coordenação Editorial de Salvador Peres e José Alex Gandum

Textos de José Alex Gandum e Salvador Peres

Imagens de Alberto Pereira, Isabel Melo, José Alex Gandum e Salvador Peres

Edição de Salvador Peres


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