No caminho de areia que o mar esculpiu
Por uma estrada verdejante e sinuosa, que sai de Setúbal num percurso desenhado na vizinhança do rio, segue-se em direcção ao maciço da Arrábida. Logo depois de se transpor a Comenda e depois de se subir a ligeira encosta acima da Fortaleza do Outão, deparamos com o quadro espantoso do areal da Praia da Figueirinha, que se espraia na encosta da Serra, num contraste dourado com as águas de um azul profundo do Atlântico.
Salvador Peres
Os Cinco Sentidos - OLFACTO
O OLFA(C)TO
Ou
Por uma Ordenação Categórica dos Sentidos
“Não me
cheira!” – afirmou o Tio Feliciano, quando lhe perguntei se estava a pensar
adotar o Acordo Ortográfico de 1990.
Analfabeto
desde muito jovem, o Tio Feliciano (o Tio, abreviadamente) não sabia – vejam só
a coincidência! – ler nem escrever e, talvez por isso, negava relevância à
questão com o mesmo ar ingénuo que envergava enquanto folheava um jornal.
O certo é
que, à pala de não ganhar nada em olhar para as legendas de filmes ou
parangonas de matutinos, vespertinos ou periódicos, o Tio ligava a televisão
para ver o Preço Certo e a publicidade – apreciando particularmente a
protagonizada pelo Toy. Na vida real era um curioso nato pelo que se passava à
sua volta; gostava de uma boa intriga; empenhava-se em acaloradas discussões;
e, obviamente, metia o nariz em tudo, inclusivamente e não raras vezes naquilo
para que não era chamado.
Deixemos
agora o Tio (que, diga-se em abono da verdade, consta que em miúdo não passava
de um pivete encardido) no seu descanso – que esperamos, muito sinceramente,
que seja eterno – e abordemos o tema por outro prisma, por um prisma que
tresanda a polémico: o que tem o Olfa(c)to a mais ou a menos que os outros
quatro sentidos (deixando nesta obra de parte o terreno escorregadio do debate
sobre o famigerado sexto sentido)?
Por que razão
o Olfa(c)to raramente aparece em primeiro lugar quando se enunciam os cinco
sentidos oficialmente reconhecidos?
Não haverá
uma necessidade de ordenar categórica e consequentemente, por grau de
importância, os sentidos? – sendo que, dado que os últimos são os primeiros,
evitaremos apenas para os lugares do meio (lá onde está a virtude com a sua
duvidosa fragrância), queremos o primeiro ou o último!
{Ou ambos,
porque tudo na vida tem dois sentidos [até os becos sem saída (que é onde agora
me sinto a marchar neste texto.)]}
Sejamos
lestos e concisos, que a conversa já fede:
- Existe a
língua gestual para quem está privado da Audição!
- Inventaram
o Braille para os que não têm Visão!
- Que
extraordinários perigos correremos se, em alguns contextos, não cheirarmos
antes de lançar mão ao Tacto?
- Quem se
atreverá, se o odor for nauseabundo, a pôr em risco o seu Paladar?
Pesemos bem
todos os dados e não nos será, nesta disputa, difícil sentir o aroma da vitória
do Olfa(c)to (logo na primeira volta e sem necessidade de recurso a fétidas
manobras de bastidores).
Porque o
Olfa(c)to é um imperativo orgânico influente e incontornável! Ajuda todos os
outros sentidos mais do que qualquer dos outros sentidos o ajudam!
É o
Olfa(c)to, inclusive, que nos garante, em primeira mão, que já devíamos ter
levado ao passeio de rotina aquele que é considerado o melhor amigo do Homem!
Sem o
Olfa(c)to muitas circunstâncias malcheirosas poderiam sobrevir e transtornar a
nossa frágil e efémera existência, deixando-nos à mercê dos outros quatro
sentidos (e do que, então, passaria a quinto, livra…), desorientados, confusos,
coitados!
Muito
respeito pelo Olfa(c)to! Sejam quais forem a situação ou o sentido que nos
pressionem para algo, há que, primeiro, cheirar para crer.
Nota: Texto publicado na Edição Especial de Aniversário do Magazine Synapsis
António Manuel dos Santos
OS SENTIDOS DA VIDA
João Coelho
Nota: Fotos publicadas no Portefólio da Edição Especial de Aniversário do Magazine Synapsis
Exposição "Retrospetiva 50 Anos MAEDS
MAEDS
- Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal inaugura, a 18 de
maio, pelas 16h00, a exposição “Retrospetiva 50 Anos MAEDS”.
A mostra celebra meio século de história, descobertas e dedicação à cultura da Região.
A exposição estará patente ao público até 11 de janeiro de 2025.
Do Cais Sul do Ferry até à Marina de Tróia
A próxima caminhada Synapsis realiza-se a 19 de Maio, com o seguinte programa:
sYnapsis 2010-2024 - 14 anos ao serviço da cultura e da cidadania
A Exposição 'A Espiritualidade da Arrábida' continua
patente nos claustros da Igreja de S. Sebastião, em Setúbal
sYnapsis 2010-2024 - 14 anos ao serviço da cultura e da cidadania
Exposição 'Há Cidades que não têm nome',
de Fátima Vicente Silva, é inaugurada
no dia 16 no Espaço Imperfeito, em Lisboa
sYnapsis 2010-2024 - 14 anos ao serviço da cultura e da cidadania
FICHA TÉCNICA
Coordenação Editorial de Salvador Peres e José Alex Gandum
Textos de António Manuel dos Santos, José Alex Gandum e Salvador Peres
Imagens de José Alex Gandum, João Coelho e Salvador Peres
Edição de Salvador Peres
sYnapsis 2010-2024 - 14 anos ao serviço da cultura e da cidadania
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