Um deserto na Baixa de Setúbal
O comércio que ainda não fechou há muito que perdeu o brilho
e o fulgor. Dentro das lojas, há um vazio e um silêncio tristonhos, saudoso de
outros tempos, quando as ruas, engrossadas por uma corrente ininterrupta de
gente, forneciam farta clientela ao comércio local.
A forma como a Avenida Luísa Todi está desenhada não ajuda. Com
as obras de reconversão, cavou-se um fosso entre o rio e os bairros históricos
da cidade. Nada convida a quem chega a Setúbal pela beira-rio a saltar a
barreira da Avenida e ir até à zona histórica. Não há suficiente oferta de
estacionamento nem corredores transparentes e apelativos que convidem os
visitantes a visitar a zona nobre da cidade. Esta opacidade urbana, a par da
falta de criatividade e iniciativa do comércio local, ajuda a esconder e
desertificar o centro histórico.
Salvador Peres
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Os Cinco Sentidos - O PALADAR
O Paladar... na minha (eno)biblioteca!
Por convívio familiar, conheci há muitos
anos, julgo que terá sido ainda nos anos cinquenta do século passado, o Eng.º
António Porto Soares Franco (1906-1968). Era diplomado pela Escola Nacional de
Agricultura de Monpellier, e foi Director da União Vinícola do Moscatel de
Setúbal. Como Administrador e Enólogo da empresa familiar, José Maria da
Fonseca foi criador de um dos ícones vínicos da nossa região vitivinícola, o
‘’Periquita’’, feito a partir exclusivamente da casta que lhe deu o nome, e de
uma colecção ampelográfica, de incomensurável valor, para salvaguarda de um
precioso património genético integrante de centenas de castas de videira, que
plantou como esse objectivo na Quinta de Camarate. Era conhecido por ‘’ter
um nariz que dava volta ao copo’’, pois era possuidor de uma invulgar
memória e capacidade de análise olfativa/gustativa, que lhe permitia, aliado ao
seu conhecimento, identificar uma infinidade de vinhos de todo o mundo.
Por ele ficamos a saber que, numa
memória que data de 1877 sobre a história do Município de Setúbal, pode ler-se:
‘’O excelente Moscatel de Setúbal, que desde tempos remotos goza de
celebridade, continua a ser muito apreciado tanto no país como fora dele’’.
Faz uma breve e interessante resenha
histórica da região, com notas dos séculos XV a XVII, com referência, nessa
época, à existência de ‘’inúmeras vinhas e casas com lagar e adega’’.
Dá-nos a conhecer que no final do século
XVIII a exportação de vinhos da região era já importante, tendo duas saídas, o
porto de Lisboa e o porto de Setúbal. Refere-se à importância da viticultura,
como sendo dentro de todos os ramos da agricultura aquele que maior importância
económica tinha, sendo que as vinhas nessa época (1938) estavam ‘’distribuídas
por mais de 1500 viticultores, e na sua cultura empregam-se durante o ano uma
dezena de milhar de braços´´. Era um tempo em que as vinhas eram quase
sempre cultivadas em consociação com árvores de fruto, pois sendo a maioria dos
produtores pequenos proprietários, era uma forma de equilibrarem a economia das
suas pequenas propriedades.
Inclui, nesta publicação, uma detalhada
informação estatística e analítica (química) sobre o Moscatel de Setúbal, o que
do ponto de vista histórico, só por si, enriquece este interessante documento.
São inúmeras as citações elogiosas ao
Moscatel de Setúbal, que menciona ao longo do texto, incluindo a do Prof.
Rasteiro, numa comunicação que escreveu para a Exposição de Sevilha, em 1929:
‘’a quinta essência dos vinhos licorosos, quando velho, é meduloso sem ser
doce, perfume complexo, etéreo e agradabilíssimo, e uma grossura que não impede
a lágrima no copo e a deglutição fácil. Quem ainda não bebeu... imagine-o‘’.
Este pequeno livro de 50 páginas inclui
ainda um resumo em francês e várias fotografias da região daquela época.
São estas pequenas, mas importantes memórias, que
temos obrigação de preservar, estudar e divulgar. É uma forma de enriquecer o
nosso conhecimento, e de perceber e respeitar o esforço que os nossos
antepassados fizeram para se chegar até aqui. A Região Demarcada do Moscatel de
Setúbal foi criada em 1907, e é grato constatar que, pelo esforço e
inteligência dos seus intervenientes, é hoje reconhecida e uma referência a
nível mundial.
(1) FRANCO, António Porto Soares (1906.1968) - ‘’ O Moscatel de Setúbal’’- Comunicação apresentada no V Congresso Internacional da Vinha e do Vinho,1938 -Edição Editorial Império
Nota: Texto publicado na Edição Especial de Aniversário do Magazine Synapsis
Francisco BorbasYnapsis 2010-2024 - 14
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OS SENTIDOS DA VIDA
Fotografia de Ana Isa Férias
Nota: Foto publicada no Portefólio da Edição Especial de Aniversário do Magazine Synapsis
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Museu do Aljube e da Resistência: A Rádio antes da Revolução
Terça-feira, dia 7 de Maio, às 18 horas, o Auditório do Museu do Aljube, em Lisboa, junta nomes como Adelino Gomes, João Paulo Guerra, Manuel Alegre ou Francisco Fanhais para abordarem o tema 'A Rádio antes da revolução: uma fresta para a liberdade', inserido no tema '25 de Abril sempre no ar' que terá continuidade nas próximas semanas. Entrada livre.
Link: https://www.museudoaljube.pt/evento/a-radio-antes-da-revolucao-uma-fresta-para-a-liberdade/?fbclid=IwZXh0bgNhZW0CMTEAAR2krwXeXrwRGun7mIgOxfXkR802WJkG3lrAfHoufpqpWIHKt_CQ4e1bP5o_aem_AYECQOp3IIW1Yv_stsTYezLAN8gmYzxxR_6nwvha9BcaB8rnMsbSxHQm9xj2UalzFrhdui6HusKYY42sVPbWvg3E
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Vitorino e José Jorge Letria à conversa nos 'FNAC Talks'
José Jorge Letría, jornalista, cantor e poeta, e Vitorino, o cantor alentejano do Redondo que imortalizou algumas das melodias mais bonitas da música portuguesa, vão estar à conversa sobre os primeiros álbuns de ambos nos anos 70 do século passado. na FNAC do Chiado, quarta-feira, dia 8, às 18h. Entrada livre.
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FICHA TÉCNICA
Coordenação Editorial de Salvador Peres e José Alex Gandum
Textos de Francisco Borba, José Alex Gandum e Salvador Peres
Imagens de Ana Isa Férias, Francisco Borba, José Alex Gandum e Salvador Peres
Edição de Salvador Peres
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